Desde 2008, o Irã perde apenas para a Tailândia em números de cirurgias de transgenitalização realizadas e o próprio governo chega a arcar com até metade do custo do procedimento, além de permitir a mudança de "sexo" nos documentos.
Em países da Ásia Meridional em que a maioria dos habitantes segue a religião islâmica, as hijras são legalmente reconhecidas como um terceiro gênero específico, mas isso leva a uma generalização da condição transgênero e pessoas que não se identificam como hijras sofrem por não ter suas respectivas identidades legitimadas.
A ideia de que uma religião considerada extremamente rigorosa reconheça a transexualidade como uma condição individual válida pode parecer estranha a princípio, mas esse reconhecimento está, na verdade, diretamente ligado ao conservadorismo de uma religião que procura colocar todos os seus seguidores sob uma mesma norma. Enquanto a homossexualidade é vista como um comportamento anti-natural pelo islamismo, a transexualidade, por sua vez, bem como a intersexualidade, são consideradas doenças que podem ser "curadas" através da cirurgia.
Essa visão se difundiu a partir da década de 1980, com a fatwa (uma opinião dada por um clérigo que tem validade de lei) deAyatollah Khomeini, reforçada por seu sucessor,Ali Khamenei e partilhada por outros líderes religiosos, de que não há restrição, na religião islâmica, para que pessoas intersexo (que nascem com genitálias ambíguas) tenham seus genitais "corrigidos".
A possibilidade de se submeter à cirurgia foi posteriormente estendida a pessoas transexuais, que desde 2001 podem abertamente passar pelo processo.
Portanto, essa aceitação não é sinônimo de uma visão mais liberalista no que diz respeito à transgeneridade e isso também não significa que pessoas trans não sejam estigmatizadas na sociedade.
A legalização da transexualidade tem mais a ver com a "normalização" das pessoas e de seus corpos para que se encaixem no padrão heterossexual de vida, algo muito distante do reconhecimento de uma diversidade das identidades trans propriamente ditas.
Outra questão bastante problemática está na punição com a morte para aqueles que cometem o crime da homossexualidade: por vezes, para escapar da morte, a pessoa homossexual opta por passar pelo processo "transexualizador", a fim de se tornar um indivíduo heterossexual.
Não é raro que homossexuais comecem a tomar hormônios mas, diante da angústia de se transformarem naquilo que não são, optem por deixar o país.
Uma prática recorrente entre profissionais como psicólogos e psiquiatras, por exemplo, é a de orientar homens e mulheres homossexuais a procurar tratamento por sofrer de uma doença, coagindo-os, então, a passar pelos procedimentos para que mudem de gênero. Muitos médicos fecham os olhos para essa pressão e apenas justificam que a facilidade oferecida às pessoas transexuais têm caráter humanitário - enquanto ignoram a diferença entre sexualidade e identidade.