O mundo das notícias é complexo, e histórias e imagens falsas costumam ser amplamente compartilhadas nas redes sociais. A equipe editorial da Blasting News identifica as informações enganosas e as fraudes mais populares toda semana para ajudá-lo a entender o que é verdade e o que é mentira. Aqui estão alguns dos boatos falsos mais compartilhados da semana.
ETIÓPIA
Alegação: Nelson Mandela disse que só tolos se dividem por raça, cor, gênero ou religião
Fatos: "Nosso mundo não é dividido por raça, cor, gênero ou religião. Nosso mundo é dividido em sábios e tolos. E os tolos se dividem por raça, cor, gênero ou religião". Esta citação foi amplamente compartilhada nas últimas semanas nas redes sociais e atribuída ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela (1918-2013).
Verdade: Como relata a AFP Fact Check, a citação foi atribuída incorretamente a Mandela. As palavras foram publicadas em um tuíte no último dia 7 de agosto, por Mohamad Safa, representante permanente junto à ONU. Após notar que suas palavras foram atribuídas incorretamente a Mandela, Safa compartilhou um post dizendo: "Não gosto de quem sempre espalha informações falsas ou passa nossas citações com o nome de outra pessoa”. “Não sei quem colocou o nome de Nelson Mandela em minhas palavras e o compartilhou online", continuou.
EUA
Alegação: Projeção era de que ao menos 2,2 milhões de pessoas morressem nos EUA devido ao coronavírus
Fatos: Em seu primeiro comentário durante o segundo e último debate das eleições presidenciais deste ano nos Estados Unidos, ocorrido na noite desta última quinta-feira (22), o presidente Donald Trump alegou que eram esperadas 2,2 milhões de mortes nos EUA devido à pandemia do novo coronavírus.
“Fechamos a maior economia do mundo para combater essa doença horrível”, completou Trump, defendendo a resposta de seu governo à pandemia.
Verdade: Trump reutilizou números de um estudo feito pela Equipe de Resposta à Covid-19 do Imperial College, de Londres, no qual é mencionado que: “Em uma epidemia não mitigada, prevemos aproximadamente 510.000 mortes na Grã-Bretanha e 2,2 milhões nos EUA”.
Desse modo, 2,2 milhões de mortes era a projeção caso nenhuma medida preventiva fosse tomada. Os EUA impuseram medidas de saúde, como bloqueios e distanciamento social, portanto, essa previsão não é precisa. Segundo dados da Universidade John Hopkins, os EUA já registraram mais de 223.000 devido à Covid-19.
EUA
Alegação: Acordo de Paris faria EUA gastarem trilhões de dólares e perderem negócios
Fatos: Durante o debate presidencial desta última quinta (22), Trump justificou a retirada dos EUA do Acordo de Paris dizendo: “teríamos que gastar trilhões de dólares e fomos tratados de forma muito injusta”. “Eles prestaram um grande desserviço. Eles iam tirar nossos negócios”, completou o presidente americano.
Verdade: Como relata a agência Associated Press, o Acordo de Paris para combater as mudanças climáticas é “baseado em reduções voluntárias de emissões” e “nenhuma nação foi forçada a fazer nada”.
FRANÇA
Alegação: Renda Ativa Solidária ultrapassa salário mínimo
Fatos: No último dia 17 de outubro, o presidente francês Emmanuel Macron declarou que o governo oferecerá uma “ajuda excepcional de 150 euros” e um adicional de 100 euros por criança, até um limite de 450 euros, aos beneficiários da Renda Ativa Solidária (RSA), em razão da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, que empurrou muitas famílias para a pobreza. Após esta declaração, uma postagem foi amplamente compartilhada nas redes sociais dizendo: “É oficial que a Renda Ativa Solidária agora ultrapassa o salário mínimo, para que trabalhar!
Faça crianças e fique aquecido, é mais lucrativo!”.
Verdade: De acordo com o Ministério da Saúde da França e a associação ATD Quart Monde, que “visa erradicar a pobreza para permitir que todos vivam com igual dignidade”, a diferença entre uma Renda Ativa Solidária e um salário mínimo é de, em média, 700 euros, informa a AFP Fact Check. Sendo assim, a Renda Ativa Solidária não ultrapassa o salário mínimo, mesmo com o acréscimo da ajuda anunciada por Macron.
AUSTRÁLIA/FRANÇA
Alegação: Ex-premiê australiana Julia Gillard disse que imigrantes devem se adaptar ou deixar o país
Fatos: Grupos nacionalistas franceses compartilharam no Facebook um suposto discurso feito pela ex-primeira-ministra australiana Julia Gillard, no qual ela dizia: “imigrantes, não australianos, devem se adaptar.
É pegar ou largar”. As postagens afirmam ainda que Gillard pediu aos muçulmanos que deixassem o país se quisessem viver sob a lei islâmica da sharia.
Verdade: Em 6 de julho de 2010, Gillard afirmou sua intenção de lutar contra a imigração ilegal e mencionou a possível criação de um centro de detenção para imigrantes ilegais que chegassem ao país de barco. No entanto, ela nunca mencionou nada especificamente sobre muçulmanos ou o Islã. Segundo a AFP Fact Check, não há nenhum registro deste suposto discurso de Julia Gillard.
REINO UNIDO
Alegação: Coronavírus não é mais letal do que gripe sazonal
Fatos: No último dia 13 de outubro, David Kurten, candidato a prefeito de Londres, afirmou em publicação no Facebook: "Os políticos e a mídia têm uma compreensão muito, muito pobre de ciência e matemática e eles perseguiram e divulgaram uma narrativa de que o coronavírus - Covid-19 - é muito, muito pior e mais perigoso do que realmente é.
A realidade é que não é pior do que uma temporada de gripe forte".
Verdade: Segundo informações da agência de checagem de fatos Fullfact, a alegação de Kurten não corresponde à realidade. De acordo com dados da Public Health England, o departamento de saúde pública da Inglaterra, em média 12.117 pessoas morreram no país devido à gripe sazonal desde 2015. Esses números variam de um mínimo de 3.966 mortes a um máximo de 22.087 mortes por temporada. Com relação às mortes por coronavírus, dados mais recentes do governo britânico, publicados em 19 de outubro, mostram que houve 38.783 mortes na Inglaterra causada pela Covid-19. Este número não inclui pessoas que podem ter morrido de Covid-19 mas não entraram na estatística por não terem sido submetidas a um teste que comprovasse a infecção, em especial durante os primeiros meses da pandemia.
Lembrando também que o número de mortes devido ao coronavírus certamente seria maior caso as medidas de distanciamento social não estivessem sendo aplicadas.
ESPANHA
Alegação: OMS confirma que coronavírus não é mais letal do que gripe sazonal
Fatos: Mensagem que circula pelo Facebook usa declaração feita no último dia 5 de outubro pelo diretor de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, para afirmar que "a Organização Mundial da Saúde (OMS) finalmente confirmou o que dizíamos há meses: o coronavírus não é mais mortal ou perigoso do que a gripe sazonal". Na ocasião, Ryan afirmou que "nossas melhores estimativas atuais nos dizem que cerca de 10% da população mundial pode ter sido infectada com este vírus”.
Com base nisso, a publicação afirma: “A população mundial é de aproximadamente 7,8 milhões de pessoas, se 10% foram infectados, existem 780 milhões de casos. O número global de mortes atualmente atribuídas às infecções por Sars-Cov-2 é 1.061.539. Essa é uma taxa de mortalidade por infecção de cerca de 0,14%. Em linha com a gripe sazonal e as previsões de muitos especialistas em todo o mundo”.
Verdade: Segundo informações da agência espanhola de checagem de fatos Newtral, o cálculo apresentado na publicação é incorreto, visto que os dados divulgados pela OMS são provisórios. “Usei essa porcentagem para ilustrar o fato de que a maioria das pessoas ainda é suscetível ao contágio”, disse Ryan em uma coletiva realizada no último dia 12 de outubro.
Segundo dados da OMS, a gripe sazonal e responsável anualmente pela morte de 290.00 a 650.00 pessoas. Enquanto isso, segundo dados do Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), entre 31 de dezembro de 2019 e 19 de outubro de 2020, foram registradas 1.110.902 mortes causadas pelo novo coronavírus.
BRASIL
Alegação: Índia processa China e cobra US$ 20 trilhões por danos do coronavírus
Fatos: Publicações no Facebook alegam que o governo da Índia teria entrado com um processo contra a China no “Tribunal Internacional”, exigindo o pagamento de uma indenização de US$ 20 trilhões pelos danos causados pelo novo coronavírus.
Verdade: Segundo informações da agência Lupa, uma consulta aos processos protocolados na Corte Internacional de Justiça mostra que não há nenhuma ação em que a Índia esteja processando a China, seja por causa da pandemia da Covid-19 ou por qualquer outro motivo.
PORTUGAL
Alegação: Jovem de 19 anos é nomeado ministro em Ruanda
Fatos: Publicação compartilhada no Facebook alega que o presidente de Ruanda, Paul Kagame, nomeou um jovem de 19 anos como ministro. Uma montagem que a companha o post traz à direita a imagem de Kagame e à esquerda a de um jovem apontado como sendo Patrick Nkuriza. “O presidente de Ruanda, Paul Kagame, acaba de nomear um menino de 19 anos como ministro. Patrick NKURIZA, 19 anos de idade, foi nomeado Ministro de Novas Tecnologias e Desenvolvimento de Ruanda por Paul KAGAMÉ. Como diz o ditado; ‘Para as almas bem nascidas, o valor não espera os anos”, diz um trecho da legenda da publicação.
Verdade: Em declaração à agência de notícias AFP, um porta-voz do governo de Ruanda afirmou que a alegação é falsa.
Segundo o site oficial do governo de Ruanda, não existe no país nenhum ministério das Novas Tecnologias e Desenvolvimento. A montagem que acompanha o posto traz de fato a imagem do presidente Kagame à direita, mas o jovem retratado à esquerda não se chama Patrick Nkuriza, mas sim Ramarni Wilfred, uma criança londrina que ganhou destaque na imprensa em 2014 por ter um QI mais elevado do que Einstein e Bill Gates.
AMÉRICA LATINA
Alegação: Zoofilia é legalizada no Canadá
Fatos: Publicação compartilhada no Facebook afirma que o Canadá legalizou relações sexuais entre humanos e animais. “O mundo ficou chocado com a decisão da Suprema Corte do Canadá de legalizar a zoofilia ou o sexo com animais. O que espera a sociedade mundial daqui a 20 ou 30 anos?”, diz a legenda da publicação.
Verdade: Segundo informações do serviço de checagem de fatos do jornal peruano La República, a origem do boato remonta a junho de 2016, quando um homem foi condenado a 16 anos de prisão por abusar de duas enteadas, mas acabou absolvido de uma acusação de zoofilia, pois, segundo a legislação canadense à época, o crime só era efetivo se o ato envolvesse a penetração do animal, o que não teria ocorrido. Em 2019, no entanto, o Parlamento canadense promulgou a Lei C-84, que modificou o Código Penal para incluir qualquer contato para fins sexuais entre animais e pessoas como crime de zoofilia.