O que tem a ver a pandemia com os tempos de funcionamento do Coliseu de Roma? Mesmo em tempos diferentes, ambos têm algo em comum: o número de vítimas que cada um assistiu ou causou.
Embora a desativação de uma das maravilhas do mundo Ocidental tenha ocorrido em 523 d.C, as histórias e embates entre homens e Animais são comentadas e viraram cenas de filmes. Ainda fascinam ou atemorizam.
Agora, turistas e curiosos terão a chance de conferir ao vivo e em cores como eram os preparativos e os últimos momentos dos “atores” que tomavam suas posições na arena central do Coliseu.
O Ministro da Cultura da Itália anunciou na última sexta-feira (25/06) o fim das restaurações que abrangem a parte do hipogeu ou cripta subterrânea do monumento considerado cartão postal de Roma. A obra foi financiada por uma marca de calçados e artigos de luxo.
Antes e depois
Apesar do delírio do público nas arquibancadas, na época, ele estava proibido de frequentar as vias subterrâneas desde o início da inauguração do Coliseu em 80 d.C. Interessante observar a mecânica envolvida para promover espetáculos perfeitos e dramáticos: usavam-se plataformas móveis e elevadores de madeira com o intuito de facilitar o acesso à arena principal.
Em pleno século XXI, os turistas farão o que os romanos antigos não podiam fazer: andar por uma passarela de 160 metros de extensão e conferir os corredores do hipogeu.
Verdade que quase todos que passaram ali, não voltaram de pé pelo mesmo caminho.
Por três anos e uma breve interrupção causada pelo coronavírus, 81 profissionais, entre arqueólogos, engenheiros, agrimensores, arquitetos e outros especialistas, limparam e restauraram as paredes da cripta.
Uma redescoberta e revalorização de um passado, ainda que sinistro, estão inscritas e contam um período de transformação do Império Romano – do apogeu ao começo do declínio; após a completa desativação do Coliseu em 523 d.C, o subterrâneo ficou esquecido e à margem da ação do tempo, acumulando escombros, abandono e poeira.
Apenas no século XIX, despertou-se o interesse por esse lugar, a antessala para lutas entre homens e animais selvagens, caçadas a feras e execuções coletivas.
Monumento calado
Prova viva e sólida da Antiguidade, as paredes do Coliseu escondem o clamor vibrante do público por querer ver um espetáculo grandioso finalizado com mortes, o rugido de animais vindos de outros lugares do Império e de gladiadores angustiados e sem opções.
Segundo guias turísticos, o ambiente não era iluminado e exalava um odor pouco agradável. As condições de vida, tanto para os escravos quanto para os bichos, eram horríveis. Outra sensação avassaladora era a saída dos lutadores do breu das instalações para a claridade da arena e da plateia ensurdecedora.
Nos bastidores do subsolo, há um túnel imponente que conduzia a um campo de treinamentos para os heróis (ou mártires). Este mesmo túnel dava acesso a um hospital e a um necrotério.
Parceira antiga
A empresa patrocinadora da restauração do hipogeu já é bem conhecida dos italianos, quando se trata de dar uma “guaribada” no Coliseu. Há alguns anos, a Tod, firma criada na própria Itália, fez uma limpeza que eliminou décadas de fuligem e sujeira, apagando uma imagem sombria e feia do monumento romano.
Seu fundador, Diego Della Valle, é uma personalidade incentivadora para os projetos de restauração necessários para o governo italiano, mas que este não possui as fontes suficientes de financiamento para executar as obras arqueológicas ou de cunho artístico espalhadas pelo país.