Os que falam espanhol divulgam e repetem uma frase muito famosa que fala de feiticeiras: “Não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”.

Depois de quase 330 anos, a cidade de Salem, situado no estado norte-americano de Massachusetts, perdoou a última “bruxa” que faltava absolver.

Elizabeth Johnson Jr. pode finalmente tirar o “piano das costas” e ter seu nome limpo perante a história e a comunidade. Só restava ela para ser libertada do fardo da culpa. Durante o processo e o julgamento ocorridos em 1692, Elizabeth confessou que praticava a bruxaria.

No ano seguinte, Elizabeth e mais 20 parentes sofreram acusações parecidas de mexer com “coisas ruins e desconhecidas”. No mesmo ano, ela foi condenada à morte. Entretanto, ao reconhecer publicamente que era feiticeira, Elizabeth teve sua pena suspensa.

E passaram-se alguns séculos

Depois de um período de 329 anos, o governador de Massachussets, Charlie Baker, assinou a absolvição de Elizabeth Johnson Jr. Mas isto não aconteceu subitamente ou num passe de mágica. Foram necessários a mobilização de uma professora de educação moral e cívica e o esforço de pesquisa feito pela turma de colegiais de uma escola para que esse desfecho tivesse um final digno de conto de fadas.

Esse grupo se debruçou por três anos para que o pedido tive consistência e aceitação por parte das autoridades locais.

Perguntada como se sentia, a professora Carrie LaPierre, a qual trabalha na Escola Fundamental North Andover, disse que estava “animada e aliviada”.

Sua felicidade não era maior, pois a notícia foi veiculada durante as férias escolares de seus alunos. Ela gostaria de falar pessoalmente com eles e fazer um balanço de tudo o que foi feito para se chegar ao resultado.

“Tem sido um projeto tão grande. Nós a chamamos de E.J.J. (...). Ela virou alguém no nosso Mundo, de uma certa maneira”, afirmou Carrie.

Caminho tortuoso

Pouco se sabe a respeito de Elizabeth Johnson Jr: quando tinha 22 anos de idade, acusaram-na de bruxaria –por sofrer de deficiência mental, a população confundiu os sintomas como provenientes de “forças ocultas manifestadas”.

Ela nunca se casou ou teve filhos. Por isso, explica-se em parte tanta demora em sua absolvição –outros descendentes de bruxas condenadas em Salem conseguiram, ao longo do tempo, que seus antepassados tivessem seus nomes limpos.

Elizabeth morreu em 1747, aos 77 anos. Outro motivo por tanto tempo arrastado vem por razões administrativas. Sua mãe tinha o mesmo nome e foi condenada na época. Posteriormente foi inocentada com mais rapidez.

Estudo e pesquisa

A professora Carrie disse que todos se envolveram com afinco no projeto, o qual foi muito bem acolhido pelos jovens. Além de ser um sonho, Carrie estimulou sua turma para o interesse à pesquisa, bem como para os métodos científicos aceitos e o uso de fontes.

A próxima etapa foi a elaboração de um projeto de lei e sua possibilidade em virar legislação. Os alunos aprenderam também o contato com os deputados locais.

Inesperadamente, o projeto ficou engavetado por um tempo e, com a ajuda da senadora Diana DiZoglio, houve a inclusão dele nas discussões que tratavam do orçamento local. A persistência dos estudantes e a estratégia abriram um caminho exitoso para confirmar a inocência da “última bruxa de Salem”.

Naquela data e hoje

Estima-se que 172 pessoas que moravam em Salem e nas cidades vizinhas foram acusadas de bruxaria em 1692. Elas foram julgadas por uma espécie de tribunal de inquisição, dirigido por puritanos. Hoje, os historiadores têm o consenso de que o tribunal agiu por paranoia.

O historiador Emerson Baker escreveu sobre os episódios ocorridos no século 17. Em sua opinião, havia “brechas” para a salvação. Era mais fácil que uma pessoa apontada como feiticeira admitisse o crime, mesmo que nunca tenha vestido o “chapéu pontudo”. Assim, poderia se livrar das torturas e da condenação à morte. Outra vantagem consistia em ficar isento das pressões e perseguições efetuadas por religiosos e parentes do réu.

A sobrevivência e a convivência harmônica com a sociedade falavam mais alto. Entretanto, os que se declaravam inocentes não possuíam a confiança do tribunal. Eram julgados, condenados e enforcados, já que os habitantes criam piamente nos malefícios práticos da bruxaria.

Naquele 1692, todas as 19 pessoas que não reconheciam ser bruxas foram executadas.

Já as 55 que “confessaram suas magias”, obtiveram a condescendência dos juízes.

Emerson Baker disse estar satisfeito pela absolvição de Elizabeth Johnson Jr., ressaltando o prejuízo às gerações posteriores de sua família no tocante à reputação.

“Depois de tudo que o governo e o povo da colônia da baía de Massachussets fizeram Elizabeth e sua família passar, é o mínimo que podemos fazer”, disse o historiador.