Enquanto a Europa passa pela aflição da subida da temperatura e de queimadas florestais, um pouco longe dali, no Oriente Médio, o Paquistão sofre com a invasão das águas em seu território, dizimando cidades e matando pessoas.

As duas áreas têm em comum o fato de estarem na estação do verão. Mas, a Europa não possui o regime das monções, frequente nessa época e que se manifesta em países vizinhos como a Índia e Bangladesh.

O caso do Paquistão é explicado em parte pelos ventos sazonais que originam as chuvas de monções, caracterizadas pela precipitação anormal vinda das nuvens durante o verão no hemisfério Norte.

No entanto, o país islâmico possui outro fator desfavorável para a sua existência: a aceleração do derretimento das geleiras das montanhas faz com que o Paquistão seja um dos países mais propícios ao desaparecimento pelos fatores naturais, hoje um componente adverso à sobrevivência do homem.

O clima é culpado?

Essa parte do continente asiático sempre teve um regime diferenciado das estações do ano. Portanto, é precipitado atribuir às monções como a promotora desta tragédia.

Até agora (04/09) cerca de 1.265 pessoas morreram, sendo 441 crianças. Só no último sábado, 03/09, registraram-se 52 mortes. Dentro desse número, 25 eram crianças.

Não obstante a todo esse cenário que assemelha ao Apocalipse, o país é alvo de várias operações de socorro e ajuda humanitária.

O caos das chuvas e o derretimento das geleiras atingiram em maior ou menor grau 33 milhões de pessoas. A perspectiva de um cenário mais suave no Paquistão é longínqua e a tendência de que a tragédia das enchentes se espalhe deverá continuar por alguns dias.

Na capital do país, Islamabad, o primeiro-ministro Shehbaz Sharif criou uma comissão para fazer um balanço dos estragos efetuados pelas inundações.

As crianças

O Fundo da ONU dedicado à Infância, o Unicef, mostrou preocupação para as consequências ocasionadas pelos alagamentos no Paquistão. Segundo o órgão, aproximadamente 3 milhões de crianças precisam de ajuda, pois são mais expostas a afogamento, desnutrição e doenças transmitidas por água contaminada.

Prejuízo que as próprias crianças sentem com relação aos estudos: mais de 17 mil escolas foram afetadas ou destruídas pela força da água.

Além disso, o Unicef lamenta que, depois de dois anos de pandemia, as escolas voltassem a parar as aulas presenciais. O órgão das Nações Unidas teme que os atrasos na alfabetização deixem os alunos mais defasados. É a impossibilidade total: seja de acesso, seja de acompanhamento.

Chegou, mas é difícil

A ajuda humanitária vem chegando gradativamente, mas os desalojados e tantos outros necessitados não conseguem recebê-la.

Com a finalidade de se ter uma compreensão de quão grave é a situação do país, quase um terço do Paquistão está debaixo d'água. O custo estimado da destruição e dos danos pode alcançar a US$ 10 bilhões.

Muhammad Awais Tariq é estudante de medicina e voluntário. Sua cidade natal fica a uma distância de quase 500 km de Islamabad.

Ele descreve um quadro desolador com muitas mortes. Disse que ele e outros voluntários já retiraram mais de quinze corpos levados pelas enchentes.

Até o cemitério de sua cidade foi engolido pelas enxurradas e sem contar com a principal função desse lugar derradeiro, Muhammad e seus colegas escolheram enterrar as vítimas nas casas em que elas habitavam.

Sobre sua situação em específico, Tariq afirmou que sua casa ainda está alagada, com o nível batendo em seus joelhos.

Muitos atingidos permanecem em suas casas inundadas, outros improvisaram tendas. As casas estão cheias de lama e existe falta de água potável e de alimentos.

Uma das principais preocupações é a carência de roupas, pois, em breve, ocorrerá a mudança de estação no Paquistão.

A parte que sobrou

As áreas que não foram prejudicadas pela tragédia climática têm ajudado na arrecadação de doações: Mubeen Ansar mora no estado do Punjab e ele se esforça na mobilização por ajudar seus compatriotas.

Ele disse que tem usado as redes sociais para pedir doações. Tem dado certo: já se podem ver cobertores, alimentos, arroz e roupas destinados aos necessitados.

Mubeen ainda planeja a compra de alimentos para os bebês e de produtos de higiene para as mulheres. Para isso, ele conseguiu reunir cerca de US$ 2 mil provenientes de uma vaquinha virtual.

É preciso deixar evidente que a questão climática não é uma invenção ou uma iniciativa de criatividade da comunidade científica. Em meio a tantos debates e conferências, sem se chegar a um acordo definitivo e pungente no combate às mudanças climáticas, uma coisa é certeira: o Paquistão é o exemplo mais significativo (dentre tantos outros) de que o tempo vem se tornando escassíssimo.

A atuação de governos se faz urgente, porém não se deve esquecer: a principal ação tem que vir da raça humana. De cada homem para que outro homem (ou melhor, seu semelhante) viva tão bem quanto se deseja. Não dá para medir forças com a Natureza.