No primeiro final de semana de junho, a Turquia colocou Recep Tayyip Erdogan em seu terceiro mandato. O político ocupa a cadeira máxima do país há 20 anos e agora ficará no cargo por mais 5 anos, após uma eleição apertada, na qual conseguiu 52% dos votos no segundo turno realizado no mês passado.

A cerimônia de posse ocorreu neste sábado (3), dentro da sede do Poder Legislativo e com a presença de 600 deputados.

Em seu discurso, Erdogan manifestou a intenção de exercer o poder com imparcialidade. Posteriormente, quando se encontrava no palácio presidencial, ele se dirigiu aos opositores, pedindo que encontrem “uma maneira de fazer a paz”.

Mudança de tom

De estilo e orientação conservadora, o presidente da Turquia mencionou uma reconciliação com a vontade nacional, apelo que foi estendido aos partidos e à intelectualidade turca, em especial jornalistas, escritores e artistas.

Essa última questão ainda é sensível para as intenções de Erdogan, pois milhares de representantes e profissionais dessas últimas áreas se encontram presos.

O rito de posse prosseguiu com a ida do governante ao mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk, fundador da atual Turquia. Foi nesse local que Erdogan se comprometeu a ajudar e reconstruir a região que sofreu um dos piores terremotos da história turca, ocorrido em 6 de fevereiro. Além de uma população desabrigada (em torno de milhões), cerca de 50 mil pessoas perderam suas vidas.

Ponto-chave

De maioria islâmica, a Turquia é um ponto estratégico na geopolítica mundial. Não à toa compareceram 80 chefes de Estado e de governo para prestigiar a posse de Erdogan. Entre eles estavam signatários da Hungria, Azerbaijão, Catar e Armênia. Havia também muitos representantes da África, como Senegal, Argélia, Congo e África do Sul.

Com relação à presença maciça dos países africanos, interpreta-se o sucesso da atuação e da expansão diplomática da Turquia no continente.

O caso da Armênia é mais espinhoso: os dois países nunca estabeleceram relações e a fronteira entre eles está fechada desde a década de 1990. Porém, no ano passado parece que a frieza cedeu um pouco e se esboçou alguma aproximação.

O último conflito de interesses entre Turquia e Armênia foi o apoio turco ao Azerbaijão, quando houve uma recente guerra territorial entre os povos armênio e azerbaijano.

Otan

Mais a oeste, a Turquia sofre pressão de membros da OTAN para que cancele ou suspenda o veto à entrada da Suécia na organização militar. A alegação de Erdogan é de que o país nórdico abriga vários ativistas de oposição ao seu governo. Em outras palavras: a visão de Ancara é de que lá na Suécia, há “terroristas”.

No mês que vem, ocorrerá uma cúpula em Vilna, capital da Lituânia, e o secretário-geral da Otan quer aproveitar a oportunidade a fim de que Erdogan repense sua posição de veto.

Ambiente doméstico

Dentro da cerimônia de posse, já no período noturno, o líder reeleito anunciou uma reformulação de seu gabinete de ministros, com destaque nas Relações Exteriores, Economia e Defesa.

É justamente na economia que Erdogan espera resultados consistentes, pois a Turquia enfrenta uma crise interna e uma inflação que já ultrapassou a barreira dos 40%. Para essa tarefa, ele escolheu alguém experiente e que já frequentou os ambientes governamentais: Mehmet Simsek, executivo do banco Merrill Lynch e ex-ministro das Finanças. Com 56 anos, ele terá a tarefa adicional de cortejar e reaver a confiança dos investidores.