Nesta quinta-feira (27) tem prosseguimento a CPI da Covid, recebendo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. A comissão parlamentar de inquérito apura eventuais crimes ou omissões do Governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Nesta semana, o Brasil superou as 450 mil mortes em virtude da Covid-19. Na terça-feira, iniciando os trabalhos da comissão nesta semana, foi ouvida a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina, apelido em alusão ao remédio sem eficácia comprovada contra o coronavírus, defendido pelo presidente Bolsonaro e pela médica pediatra.

Falta de apoio do presidente Bolsonaro

O diretor do Butantan afirmou na CPI que o início das conversas com o governo federal para cooperação na produção da vacina contra a Covid-19 foram satisfatórias no primeiro momento. "Dia 20 de outubro, eu fui convidado pelo então ministro da Saúde, general [Eduardo] Pazuello, para uma cerimônia no Ministério da Saúde, onde a vacina seria anunciada. O ministro Pauzuello até disse 'essa será a vacina do Brasil' e anunciou naquele momento publicamente, com a presença de governadores, parlamentares, que iria ser feita uma incorporação de 46 milhões de doses. No final da reunião do dia 20 [de outubro], nós saímos muito satisfeitos com a evolução dessas tratativas", contou.

Contudo, Dimas Covas disse que o presidente Bolsonaro emperrou as negociações de apoio à vacina que seria produzida pelo Butantan. "No outro dia de manhã [21 de outubro], onde ainda existiriam conversações adicionais, infelizmente essas conversações não prosseguiram, porque houve sim uma manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria de fato incorporada e não haveria o progresso desse processo.

Óbvio, isso causa sem dúvida nenhuma uma frustração de nossa parte, mas, enfim, faz parte. Voltamos ao Butantan e continuamos o projeto", lamentou.

Projeto continuou, apesar do presidente

Mesmo com dificuldades e incerteza da aquisição do imunizante pelo governo federal, Covas explicou que o governo de São Paulo e outros estados auxiliaram financeiramente na produção da vacina.

No depoimento, o diretor do Butantan informou que no final de 2020, milhões de doses já estavam disponíveis. "Estávamos em dezembro com mais de 5,5 milhões de doses de vacinas prontas, estocadas no Butantan e quatro milhões de doses em processamento, ou seja, quase 10 milhões de doses prontas em dezembro do ano passado", citou.

Segundo Covas, o nosso país poderia ter sido o primeiro a iniciar a imunização. "O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final de dezembro, o mundo tinha aplicado pouco mais de 4 milhões de doses (...) Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou? Nós já tínhamos as doses, já estavam disponíveis, e eu muitas vezes declarei em público que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação", afirmou.