O depoimento de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do Governo Jair Bolsonaro (sem partido), à CPI da Covid do Senado fez o clima esquentar no dia mais conturbado da comissão até o momento. O que o Planalto pensou que seria um depoimento em que o presidente da República seria isentado de culpa por sua gestão da pandemia do coronavírus, acabou tendo um efeito que não era o desejado pelo governo federal.

Pedido de prisão

Irritado com as mentiras e contradições do depoente em quase dez horas de depoimento, o relator da comissão parlamentar de inquérito, Renan Calheiros (MDB-AL), ameaçou dar voz de prisão a Fabio Wajngarten.

O ex-secretário de Comunicação do governo acabou por colocar nas costas de Bolsonaro parcela da responsabilidade por ter desprezado uma oferta de imunizantes da Pfizer em setembro de 2020. A falta de investimentos em vacinas por parte do governo Bolsonaro é uma das principais linhas de investigação da CPI que apura as ações e eventuais omissões do governo na crise sanitária.

Wajngarten saiu da Secretaria Especial de Comunicação no mês de março, e em abril concedeu uma entrevista à revista Veja na qual afirmou que a condução errática da pandemia do coronavírus era responsabilidade do Ministério da Saúde, na época comandado pelo general Eduardo Pazuello.

Foi justamente por causa dessa entrevista que ele foi convocado a depor na CPI.

Sua presença na comissão estava sendo vista como capaz de colocar o governo em maus lençóis. Inicialmente, o depoimento do ex-secretário estava indo em caminho favorável a Bolsonaro e até mesmo a Pazuello, mas, depois de tanto ser colocado contra a parede por senadores que o acusaram de estar mentindo, a testemunha confirmou a situação envolvendo a Pfizer.

No dia 12 de setembro, a empresa farmacêutica enviou uma carta ao governo federal em que oferecia imunizantes. Seis pessoas receberam o documento: o presidente da República, Jair Bolsonaro, seu vice, o general Hamilton Mourã, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os então ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Eduardo Pazuello (Saúde).

A carta não obteve nenhuma resposta oficial até o dia 9 de novembro, quando Fabio Wajngarten soube, por meio do empresário Marcelo de Carvalho, dono da RedeTV!, que a Pfizer ainda estava aguardando uma manifestação do governo brasileiro.

O depoente então relatou que enviou um e-mail para a sede da empresa em New York em que comunicou que teve acesso à carta. A mensagem eletrônica foi disponibilizada à CPI na quarta-feira (12). Ainda naquele 9 de novembro, pouco tempo após enviar o e-mail, ele recebeu uma ligação do então gerente-geral da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo. Segundo Wajngarten, ele levou o telefone para Jair Bolsonaro, que estava reunido com o ministro da Economia, e tanto Bolsonaro quanto Guedes conversaram com Murillo.

O ex-secretário acrescentou que nem Bolsonaro nem Guedes justificaram o motivo pelo qual não deram nenhuma resposta. O ministro da Economia somente teria dito que esse era “o caminho” e o líder do Executivo acrescentou que quaisquer imunizantes iriam ser comprados desde que fossem aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Hora da verdade

Nesta quinta-feira (13), a CPI irá ouvir os depoimentos de Carlos Murillo e Marta Díaz, sucessora de Murillo no comando da farmacêutica na América Latina.