O diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, é acusado de solicitar pagamento de propina por cada dose da vacina AstraZeneca, imunizante contra a Covid-19.
O autor da acusação é o representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele afirmou que na ocasião houve por parte da empresa uma tentativa de negociar a venda de 400 milhões de doses do imunizante AstraZeneca ao governo Bolsonaro, mas que rejeitou o acordo diante de uma exigência de propina de Dias.
Imunizante contra Covid-19: negociação de compra e proposta de propina
Em 25 de fevereiro, Dias e Dominguetti se encontraram para negociar a compra do imunizante, segundo o representante da Supply. Em 26 de fevereiro, o Brasil registrou a marca de 250 mil mortos em decorrência da pandemia do coronavírus.
Segundo o empresário, Dias pediu para que ele pensasse "direitinho" e ressaltou que se a empresa quisesse "vender vacina no ministério tem que ser dessa forma". A Folha questionou qual seria essa "forma". Segundo ele, cada dose deveria custar US$ 1 a mais, o que, para um contrato de 200 milhões de doses, daria uma propina de cerca de R$ 1 bilhão.
Ainda nesta quarta (30), o Ministério da Saúde afirmou que Dias será exonerado do cargo.
Entretanto, o laboratório anglo-sueco AstraZeneca anunciou que não faz uso de intermediários para negociar com governos. O comunicado foi citado pelo portal G1.
Aumenta a pressão sobre o governo Jair Bolsonaro
Líderes contrários ao Governo de Jair Bolsonaro pretendem solicitar ao MPF (Ministério Público Federal) uma apuração sobre o suposto pedido de propina por parte de Roberto Ferreira Dias.
Por meio de suas redes sociais, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que irá convocar Luiz Paulo Dominguetti Pereira para depor na CPI na próxima sexta-feira (2).
Na semana passada, outro servidor do Ministério da Saúde afirmou ter detectado, em março deste ano, possíveis irregularidades contidas no contrato para aquisição da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, A preços altíssimos, e que levou a informação diretamente ao presidente Bolsonaro, que lhe garantiu comunicar as suspeitas à PF (Polícia Federal), mas aparentemente nunca o fez.
Oposição acredita que Bolsonaro tenha cometido crime de prevaricação
Diante dessa aparente omissão, três senadores abriram um processo junto ao STF na última segunda-feira para que Jair Bolsonaro seja investigado por crime de "prevaricação”. A oposição também estuda incluir o tema no superpedido de impeachment contra o atual presidente da República.
O caso revelado pela Folha se une a outras denúncias de Corrupção investigadas pela CPI da Covid, instaurada pelo Senado para apurar as ações e eventuais omissões do governo Bolsonaro no enfrentamento à pandemia, que já matou mais de 500 mil pessoas em todo o Brasil.