As tensões da alta cúpula das Forças Armadas por conta do desfile dessa terça-feira (10), em frente do Palácio do Planalto, desencadearam problemas na organização.

Isso porque o desfile era uma cerimônia para entregar nas mãos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) um convite para assistir à Operação Formosa.

Segundo a jornalista do portal UOL Thais Oyama, o Alto Comando do Exército não viu com “bons olhos” e teria pressionado o comandante da Força, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a não atender a convocação do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, para participar dessa cerimônia.

Só que o comandante teria um problema, pois segundo o próprio Exército, se um superior convoca e não é atendido, esse convocado responde por indisciplina e pode ser punido. Para o general Paulo Sérgio escapar dessa punição, caso não atendesse Braga Netto, poderia pedir a demissão do cargo que ocupa, sendo esta mesmo a vontade da alta cúpula.

Só que o ministro Braga Netto convocou tanto o general Paulo Sérgio como o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, para ladear o presidente na rampa do Planalto.

A cerimônia da entrega do convite aconteceu no mesmo dia que os parlamentares iam votar a pauta da PEC do voto impresso e foi precedida por um desfile de blindados da Marinha bem na Esplanada dos Ministérios.

Braga Netto é chamado de traidor

Ao que parece, segundo o site da UOL, a postura do ministro Braga Netto, de dar um respaldo político ao uso das Forças Armadas de forma política a Bolsonaro está causando várias divisões e irritando uma parte dos oficiais, tanto da ativa quanto da reserva.

Na cerimônia era possível ver o ministro Braga Netto ao lado do presidente da República nessa terça enquanto assistiam ao desfile dos blindados da Marinha na frente do Palácio do Planalto.

Isso aconteceu horas antes de o Parlamento votar a PEC do voto impresso.

Vários militares contaram à coluna do UOL que esses episódios específicos fizeram com que, em alguns círculos militares, o general Braga Netto passasse a ser chamado de “Calabar”.

Na época da colonização do Brasil, em uma área que hoje é Alagoas, existia um proprietário de terras chamado Domingos Fernandes Calabar que ficou conhecido dentro da história do país por ser aliar aos holandeses em oposição aos colonizadores de Portugal, em 1632.

Assim, entre populares, o nome dele passa a ser associado a um “traidor”. Na verdade, Calabar estava insatisfeito com o tratamento dos portugueses com os donos de terras e passou a usar suas proximidades com os colonizadores para tirar informações e depois dar elas para os holandeses, que desejava no Brasil e dominar aquela região.

Esse plano deu certo um bom tempo, mas Calabar acabou descoberto. Depois, foi preso em 1635 e submetido em um julgamento e foi acusado de “traição”. Contudo, foi condenado e morreu enforcado. Além disso, seus restos mortais foram arrancados de seu corpo e espalhados na praça pública.

No caso do ministro Braga Netto, o nervoso que alguns companheiros de farda têm relação à proteção que ele deveria ter com as Forças Armadas e do uso político delas. Ao ceder às exigências do presidente Bolsonaro, ele estaria traindo a missão dentro da Constituição.