Uma reportagem do portal de notícias investigativas The Intercept Brasil, assinada por Guilherme Mazieiro, revelou que o governo Bolsonaro pagou pelo menos R$ 4,3 milhões a celebridades influentes das mídias sociais e convencionais (rádio e TV). A ideia era repassar verbas para fazer merchandising do Governo e apoio às ações da gestão.

Os gastos da Secom (Secretaria de Comunicação Especial da Presidência) foram repassados entre os anos de 2019 e 2020 diretamente para emissoras "parceiras" do governo federal, como Band, SBT, Record TV e RedeTV!.

Em documentos acessados pela reportagem, há a indicação do "pagamento de cachê", há ainda a relação das notas fiscais da Secom entregues à CPI da Covid.

Diferentemente de parte da mídia crítica ao governo, as emissoras parceiras, além de não receberem retaliações de Bolsonaro, ainda recebem o chefe do Executivo para entrevistas exclusivas a apresentadores designados para fazer o merchandising do governo, como são os casos de José Luiz Datena e Sikêra Jr.

Celebridades recebem valores do governo Bolsonaro

A Secom direcionou 263 notas fiscais à CPI da Covid com a informação de "pagamento de cachê". Ao todo, a soma revela um montante de R$ 4.846.601,72. No entanto, entre os documentos analisados pelo The Intercept, em torno de 139 notas, o montante era um pouco menor, na casa de R$ 4,3 milhões. Não aparecem, no entanto, a Rede Globo, maior emissora do país, e suas respectivas afiliadas.

Atacada por Bolsonaro, a TV Globo é frequentemente chamada de "lixo" pelo presidente e seus apoiadores.

Liderando a lista está a dupla Simone e Simaria, contratada pelo governo para abordar o tema do Combate à Violência Contra a Mulher. O cachê da dupla foi de R$ 1 milhão. Ao todo, foram gastos R$ 1,7 milhão entre Famosos para a campanha, sendo distribuídos os demais valores entre Lívia Andrade, do SBT, Datena e Catia Fonseca, da Band, Ana Hickmann, Ticiane Pinheiro e Luiz Bacci, da Record TV, além de Nelson Rubens, da RedeTV!.

Famosos fazem merchan negacionista

Além dos pagamentos feitos para campanhas contra a violência contra a mulher, o governo ainda redirecionou R$ 746 mil para famosos envolvidos em campanhas a favor do "cuidado precoce". O nome alterado serviu para o governo disfarçar o termo "tratamento precoce", porém tratava-se das mesmas orientações envolvendo o uso de cloroquina e outros fármacos sem comprovação científica para combater a infecção do coronavírus.

Grande parte do valor repassado foi dividido entre influencers, que receberam R$ 352,6 mil, e radialistas, que embolsaram R$ 247,2 mil. Vale ressaltar que as emissoras de rádio e seus respectivos locutores estão espalhados pelo Brasil, atingindo o público do interior e incentivando a população a aderir ao que o governo chamou de "cuidado precoce" contra o coronavírus.

Principais nomes que receberam valores para divulgar o "cuidado precoce":

  • César Filho, da Record TV – R$ 93,6 mil
  • Sikêra Júnior, da RedeTV! – R$ 24 mil
  • Marcelo de Carvalho, da RedeTV! – R$ 10 mil
  • Milton Neves, da Band – R$ 7,2 mil
  • "Operação Mesquita", programa do Otávio Mesquita no SBT – R$ 6,3 mil
  • Benjamin Back, do SBT – R$ 5,6 mil

Já em janeiro de 2021, a Agência Pública havia revelado que influencers foram pagos pelo governo federal para defender o tratamento precoce em seus perfis. Segundo a reportagem, à época, os valores pagos giravam em torno de R$ 23 mil.