A CPI da Covid no Senado descobriu que há um padrão para os esquemas suspeitos de compras de imunizantes no Ministério da Saúde, em que são vistas empresas sem nenhuma qualificação, empresários suspeitos, a presença de ex-militares em negociações de quantias bilionárias, entre outras atividades suspeitas.

O que não se sabia é que havia a presença de gente com o sobrenome Bolsonaro atuando em negociações de vacinas.

Uma troca de e-mails que a revista ISTOÉ teve acesso de forma exclusiva mostra que há fortes suspeitas da participação do senador Flávio Bolsonaro em uma negociação paralela para a compra de um imunizante estadunidense chamado Vaxxinity, ainda em fase de testes e sem nenhuma aprovação de nenhuma autoridade sanitária do mundo.

A negociação teria iniciado em uma viagem que o senador fez aos Estados Unidos no último mês de junho.

O que foi revelado pela revista foram os primeiros indícios de que o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria participado de mais um esquema suspeito do Governo federal no processo de compra de vacina contra a Covid-19.

O caso chama a atenção por ter vários pontos em comum com outros escândalos que já estão sendo investigados na Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado que investiga as ações e omissões do governo federal na gestão da pandemia do coronavírus.

O envolvimento de Flávio nas negociações da Vaxxinity teve início no dia 9 de junho deste ano, exatamente às 15h37, quando o advogado e proprietário de uma pousada em Itacaré na Bahia, Stelvio Bruni Rosi, manda um e-mail ao gabinete do parlamentar pedindo um encontro do filho mais velho de Jair Bolsonaro com representantes da empresa Vaxxinity, sediada em Dallas, nos EUA.

No dia em que Rosi enviou a mensagem eletrônica, o senador cumpria agenda com Fabio Faria, o ministro das Comunicações.

Eles estavam nos Estados Unidos onde visitaram em Nova York e Washington redes privadas de 5G entre os dias 7 e 10 de junho.

Flávio Bolsonaro prontamente deu encaminhamento ao caso. No dia seguinte, às 11h30, o gabinete do senador encaminhou o e-mail de Stelvio a Rodrigo Cruz, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Cruz substituiu o coronel Élcio Franco, que deixou o cargo em março.

Franco é um dos investigados na CPI da Covid.

Branca de Neve

A funcionária do gabinete de Flávio, Branca de Neve José Luiz, enviou mensagem em que foi pedido que Cruz analisasse o pedido para confirmar se havia interesse na compra da vacina. A veracidade do conteúdo dos e-mails foi confirmada pelos envolvidos na negociação.

Stelvio conversou com a ISTOÉ e se disse arrependido de ter pedido a intervenção do senador no caso junto à pasta da Saúde.

De acordo com o próprio site do laboratório, a vacina produzida pela empresa é experimental e não foi aprovada em nenhum país do planeta.

Flávio Bolsonaro, por meio de nota, negou que teve encontro com representantes da Vaxxinity quando esteve nos Estados Unidos em junho.

Ele também negou que tenha realizado quaisquer intermediações entre a empresa e o Ministério da Saúde.

A ISTOÉ também procurou o laboratório para descobrir se a empresa começou negociações com o governo do Brasil e se a empresa tinha representação no país.

O laboratório afirmou de maneira categórica que nunca conversou com o Ministério da Saúde e que ninguém da Vaxxinity tem contato com Stelvio Bruni Rosi.