O presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu na última quarta-feira (15) que realizou trocas na diretoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) depois de tomar conhecimento das queixas do empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan, sobre a paralisação de uma obra em Rio Grande (RS) por causa de uma descoberta arqueológica.

Fiesp

O presidente da República fez a declaração a empresários em evento na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Em 2020, em uma reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril, Bolsonaro já havia dado a entender que a interferência no órgão teria sido motivada para beneficiar Hang, bolsonarista de primeira hora.

Na reunião, Jair Bolsonaro declarou que ficou sabendo que Luciano Hang estava construindo mais uma loja da Havan e que durante as escavações foi encontrado um azulejo, o que levou o Iphan a interditar a obra.

O presidente continuou seu relato dizendo que ligou para "o ministro da pasta" para perguntar o que é o Iphan e, após tomar conhecimento do que se tratava, "ripou todo mundo" do órgão.

O caso relatado pelo presidente aconteceu em 2019. Na ocasião, o Iphan divulgou nota que explicava que a própria Havan foi quem suspendeu a obra.

Segundo o termo assinado pela empresa, eles iriam contratar um profissional da área de arqueologia para fazer o monitoramento adequado dos trabalhos e interromper a obra caso fossem achados artefatos arqueológicos na área.

No mês de maio do ano passado, um mês depois da reunião ministerial, Luciano Hang declarou à revista Veja que a construção foi retomada depois de ter ficado 40 dias paralisada, após a conclusão do Iphan sobre os fragmentos de cerâmica encontrados na obra.

Favor

Hang também negou que tenha pedido a ajuda de Bolsonaro sobre a questão.

O empresário alegou que Jair Bolsonaro deve ter visto nas redes sociais de Hang.

O entrevistado também disse à publicação que é um "ativista político", porém não pede favores pessoais.

Ex-Iphan

Kátia Bórgea, ex-diretora do Iphan –exonerada logo após Hang dar publicidade ao caso–, já havia denunciado a interferência do presidente Jair Bolsonaro no órgão no mês de maio do ano que passou, em entrevista à coluna Painel da Folha de S.Paulo.

De acordo com Bórgea, Bolsonaro mentiu sobre a nomeação de quadros técnicos para compor o Governo federal, sendo que o mandatário somente aceita quem esteja disposto a "passar por cima da lei".

Ela ainda disse que, antes de ser demitida, aconteceram várias trocas no Iphan, entre os exonerados estavam um diretor técnico e também coordenadores que ocupavam superintendências importantes, como as do Rio de Janeiro e a de Minas Gerais.