O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, fez uma mobilização no Congresso Nacional para que fossem viabilizadas as leis que colocaram em prática o Auxílio Brasil e o crédito consignado. Bolsonaro também trabalhou para convencer a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a ter uma participação na campanha.

Errou o alvo

Porém, segundo o portal UOL, o esforço não se transformou em intenções de votos. As pesquisas mostram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a simpatia do público feminino e daqueles que recebem o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 –o empréstimo consignado nem saiu do papel.

Lula

Beneficiários do Auxílio Brasil preferem o ex-presidente Lula. No dia 15 de julho o Governo federal publicou no Diário Oficial da União a emenda que permitia o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600. O pacote também incluiu o aumento do vale-gás e a criação de benefícios para taxistas e caminhoneiros.

O mercado financeiro reclamou do que chama de bomba fiscal e houve acusação de que se estava fazendo troca de dinheiro por votos. Mas a campanha de Jair Bolsonaro estava satisfeita por entender que as medidas se tratavam de trunfos eleitorais na tentativa de recondução ao Palácio do Planalto.

Datafolha

O instituto de pesquisas mostrou na última quinta-feira (22) que Lula tem confortáveis 33 pontos percentuais à frente entre quem está recebendo atualmente o Auxílio Brasil –Lula aparece com 59%, enquanto Bolsonaro tem 26%.

Na rodada anterior, a pesquisa apontou que Lula estava com 31 pontos percentuais à frente do atual presidente da República entre os beneficiários do Auxílio Brasil.

A campanha do mandatário diz que a desvantagem nas pesquisas é decorrente de diversos fatores. O primeiro deles é a demora na troca do cartão do benefício, que continuou com o nome de Bolsa Família por muito tempo.

O programa de assistência social é uma marca registrada da gestão Lula e, segundo a equipe de Jair Bolsonaro, prejudicou a associação do aumento do valor do programa de distribuição de renda com o governo Bolsonaro.

Outro resultado da continuidade do nome no cartão foi facilitar a narrativa de Lula de que o Auxílio Brasil se tratava um programa para ganhar votos e que iria terminar no final do ano.

O fato de o benefício encorpado nascer com previsão de ser pago somente até o mês de dezembro ajudou a fixar este pensamento na cabeça do eleitor.

A campanha de Bolsonaro ainda acredita que o presidente limitou-se a conceder entrevistas somente para veículos de comunicação que lhe são simpáticos, conversando desta maneira somente com a bolha bolsonarista.

Demora

O fator ainda mais prejudicial à campanha de Bolsonaro foi a demora para o início dos pagamentos. Quando surgiu a ideia, começou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, no fim do mês de fevereiro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a postergação dos desembolsos para a preservação do dinheiro em caixa do governo federal. Na ocasião, havia a esperança de conseguir resultados positivos já no primeiro pagamento.

Agora, a leitura é a de que o adiamento foi prejudicial à campanha do presidente.

Michelle

As pesquisas anteriores à disputa eleitoral já mostravam que Bolsonaro precisava melhorar sua imagem entre as mulheres. O problema era conhecido e a solução também, a primeira-dama era vista com um trunfo na campanha do marido como uma forma de suavizar a imagem de Bolsonaro. Ela fez um discurso na convenção do PL no mês de julho e a equipe da campanha ficou empolgada.

Mas a avaliação dos aliados do presidente é que o comportamento de Bolsonaro boicotou o possível apoio do eleitorado feminino conseguido com a figura de Michelle. O primeiro fato que ganhou repercussão foi o ataque verbal que o presidente fez à jornalista Vera Magalhães no dia 28 de agosto, no debate promovido pelo pool de veículos de comunicação formado por Band, Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL.

Não demorou nem duas semanas para que o presidente da República voltasse a dar declarações que desagradaram o público feminino. No dia 7 de setembro ele ensaiou um coro de “imbrochável”. Primeiramente, a campanha entendeu que se tratava de um ato que não teria tantas consequências negativas quanto ataques a autoridades ou a instituições, porém o episódio repercutiu mal entre as mulheres.

Também era esperado que Michelle Bolsonaro fosse presença constante na agenda eleitoral do marido, porém Bolsonaro entende que a realização de motociatas seguidas de comício se trata da melhor forma para pedir votos. A primeira-dama não é simpática às motociatas, que ela nomeou como “evento de macho”.

O que também desagrada Michelle Bolsonaro é a presença do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, ao lado do presidente da República.

Valdemar foi preso por ter se envolvido no mensalão, isto também afasta Michelle de alguns eventos da campanha do marido.

Empréstimo consignado

Esta modalidade de empréstimo não deu certo. O governo federal fez de tudo para aprovar o crédito e, no dia 4 de agosto, foi sancionada a lei que concede o empréstimo consignado no valor de R$ 2.056 para os beneficiários do Auxílio Brasil, porém problemas com a fixação do teto de juros não permitem que seja disponibilizado o empréstimo.

Os bancos queriam juros de até 80%, o triplo do que é cobrado dos servidores públicos. O percentual fez com que entidades reclamassem que a população de menor renda iria se endividar e que isto era exploração de sua vulnerabilidade. O consignado foi outra aposta de Bolsonaro que empacou.