Um livro, assim como uma obra de arte, se presta a inúmeras interpretações. Ainda mais quando este livro é “O Príncipe” de Maquiavel (1469-1527), um clássico da filosofia moderna e obra-prima da ciência politica.

Dele podem-se extrair lições infindáveis, como essas que seguem:

1. Moral utilitária. É lugar comum atribuir-se a Maquiavel a tese da moral utilitária, segundo a qual “os fins justificam os meios”. Do mesmo modo, costuma-se dizer que uma pessoa, não muito altruísta, é maquiavélica. Essa ideia não passa de uma injustiça para com o filho de Florença.

Em nenhum capítulo do livro, vinte e seis no total, ele escreveu que “os fins justificam os meios”. Provavelmente esse “erro” deve-se as inúmeras traduções feitas pelo mundo a fora. Como o livro tornou-se “leitura obrigatória dos maiores líderes do planeta”, foi fácil propagar tal ideologia.

2. Humanismo cívico. O pensamento de Maquiavel, base da ciência Política moderna, pode ser identificado com humanismo cívico, vertente intelectual que fundamentou o renascimento italiano. Isto é, trata-se do movimento que passa a lutar contra a ampliação dos principados tirânicos. Nesse sentido, o humanismo cívico foi palco do ressurgimento de um conjunto de valores clássicos, associados ao republicanismo.

Filósofos como Platão, Aristóteles e Cícero foram reinterpretados. Desse modo, os pensadores renascentistas foram buscar na antiguidade ideias para defender a democracia e a liberdade humana, atualizando o pensamento político, mergulhado na “era das trevas”. Para Maquiavel, “Todos os Estados bem governados e todos os príncipes inteligentes tiveram cuidado de não reduzir a nobreza ao desespero, nem o povo ao descontentamento.”

3.

Cidadania plena. O principal legado dos clássicos da antiguidade para os humanistas do renascimento italiano, dentre eles Maquiavel, foi à lição de que a plena realização da cidadania só seria possível mediante a participação efetiva dos indivíduos nos assuntos públicos. Para Maquiavel, a cidadania plena só é conquistada pelas lutas e pela virtude.

Nesse sentido, ele afirma que um homem prudente deve empreender sempre os caminhos trilhados por grandes homens e tomar por modelo os que foram excelentes, a fim de que, mesmo que não consiga alcançar as mesmas virtudes e glórias, possa, ao menos, reproduzir seus princípios. Enfim, Maquiavel escreveu O Príncipe como “receita de bolo” e dedicou-o a Lourenço de Médici para unificação da Itália e tornou-se teórico principal da formação do Estado moderno.