A marca Bombril vem sendo acusada de racismo após lançar uma esponja de aço com o nome de “Krespinha”. O nome foi automaticamente apontado como uma associação pejorativa ao cabelo crespo. No Twitter, a hashtag #bombrilracista foi um dos assuntos mais comentados desta quarta-feira (17).
No momento, o produto foi retirado do site da marca. Anteriormente, a esponja era divulgada como “perfeita para a limpeza pesada”. A empresa afirmava ainda que o produto era ideal para remover sujeira e gordura de um modo mais rápido. Até o momento, a Bombril não se manifestou sobre o ocorrido.
Propaganda racista na década de 1950
Na década de 50, uma esponja que levava o mesmo nome era vendida aqui no Brasil. A “Krespinha” era um produto pertencente à S.A. Barros Loureiro Indústria e Comércio, sendo vendida na loja Sabarco, em São Paulo.
Na embalagem do produto, havia uma menina negra, de cabelos crespos, com um “K” no lugar do corpo, fazendo uma personificação da esponja de aço.
Com o novo lançamento da Bombril, foi impossível não fazer um comparativo dos produtos e concluir a infeliz semelhança de ambas as marcas.
Críticas sobre a Bombril em redes sociais
Milhares de usuários do Twitter se manifestaram durante a manhã, criticando fortemente a marca, pela conotação racista ao associar os cabelos crespos com produtos de limpeza e serviços domésticos.
Entre os tuítes, existe uma mistura de dor, revolta e tristeza. Muitos dos usuários relembram a infância e adolescência, marcadas pelo racismo e pela comparação dos seus cabelos crespos, com a esponja de aço.
A atriz Zezé Motta se manifestou em suas redes sociais lamentando que no momento em que o mundo passa por um processo de conscientização, uma empresa como a bombril transpareça o “racismo estrutural existente”
Outra atriz que se posicionou nas redes foi Jennifer Dias.
A atriz que se disse chocada com o ocorrido, chamou a atitude da marca de “desrespeitosa e irresponsável”.
Me choca tanto, é tão desrespeitoso e irresponsável, que eu fui no site da marca algumas vezes conferir se é real!
É REAL! É 2020!
A empresa #BOMBRIL desenvolveu e lançou esse produto...
Deixando escancarado o
RACISMO ESTRUTURAL que diariamente lutamos para desconstruir! pic.twitter.com/84D52rMfMk
— Jeniffer Dias (@eujenifferdias) June 17, 2020
Para a jornalista Flávia Oliveira, a criação do produto remete à “meritocracia” e questiona: "onde está o mérito de um executivo (ou grupo) capaz de idealizar, batizar e lançar um produto atado ao racismo recreativo?".
1) O caso da esponja #Krespinha me remete à meritocracia, conceito tão evocado no debate sobre diversidade de gênero e raça no mundo corporativo. Onde está o mérito de um executivo (ou grupo) capaz de idealizar, batizar e lançar um produto atado ao racismo recreativo?
— Flávia Oliveira (@flaviaol) June 17, 2020
Flávia prossegue afirmando ser “impressionante” que a marca Bombril, cujo produto principal é usado para depreciar pessoas negras durante tantas décadas, batizar assim um outro produto, justo agora em 2020, onde o racismo está em pauta.
Movimento Vidas Negras Importam
O lançamento do produto acontece exatamente no momento em que o mundo está engajado no movimento Vidas Negras Importam, em que o debate sobre o racismo vem crescendo nas últimas semanas e muito se tem falado sobre a importância do antirracismo na sociedade.