A série "Greenleaf" pode dizer algo sobre a sociedade em que vivemos e, sob os olhos mais religiosos, mostra de que modo a igreja foi secularizada. Ou, em outras palavras, de que modo uma instituição que deveria ser o templo de santificação se transforma numa instituição histórica com todas as suas singularidades e dificuldades dialéticas.

Produzida por Oprah Winfrey em junho de 2016, atualmente conta com cinco temporadas, cada episódio com quarenta minutos em média.

Sobre o que fala a série

A série se passa nos EUA, onde é comum a existência de modelos de igreja específicas para a comunidade negra.

Nesse contexto surge a família Greenleaf, cujo clero é composto inteiramente por negros. Os Greenleaf, cujo patriarca é o bispo James, administram a igreja e se ocupam de muito mais do que apenas assuntos teologais. Em seu meandro, temos casos de lavagem de dinheiro, corrupção e adultério.

A homossexualidade é outra temática relevante da série. Citada discretamente na primeira temporada, é basicamente o enredo central da segunda temporada. A filha do bispo vê o casamento de sua filha desmoronar quando seu marido assume nutrir sentimentos por outros homens. E, em seguida, passa por todo o sofrimento daqueles que vivem no armário, a sensação de impotência, a fragilidade e as famigeradas terapias de cura gay.

Mas o que realmente importa

Apesar de todas as tentativas de James, que, em determinado momento parece até ser real, vemos na série a administração escusa de sua igreja. Casos de sonegação de impostos e donativos não declarados são citados. Temos também seu cunhado, abusador de menores. E, além de tudo isso, um segredo que atinge a família Greenleaf há vinte anos e que culminou na morte de uma das filhas do bispo.

Apesar de todas as dificuldades, a família Greenleaf vive em meio ao fausto. A tão falada teologia da prosperidade é seguida à risca, sem qualquer pudor. O fausto de sua igreja, sua mansão, toda sua fortuna mostram um ângulo desconhecido pela maioria de seus fiéis, talvez com a mesma reprodução das igrejas que encontramos atualmente.

Vale à pena assistir?

Para os religiosos é necessário entender a série como uma crítica sociológica, como um modelo de instituição que, para além de ser teoricamente constituída para bons propósitos, apresenta dificuldades e dilemas como qualquer outra instituição. É necessário que se perceba a fragilidade da igreja para que se pense em novos modelos institucionais.

A série é bem lenta, desprovida de tiros e explosões como outras séries do Netflix. Para alguns, é possível que cause sono, mas nada que desmereça a produção. Antes, temos temas espinhosos, polêmicos e que aguçam os sentidos.

Isso tudo, claro, devemos também considerar os belíssimos trabalhos de Keith David, que faz o bispo, e Lynn Whitfield, que faz a esposa amargurada e devota.