Estreou na Netflix nesta quinta-feira (18) o longa-metragem "A Voz Suprema do Blues" (Ma Rainey's Black Bottom).

A produção dirigida por Gerge C. Wolfe é uma adaptação da peça de teatro homônima de 1982 do ganhador do Pulitzer August Wilson.

O filme é protagonizado por Viola Davis e Chadwick Boseman. O elenco conta ainda com Glynn Turman, Taylour Paige, Dusan Brown, Colman Domingo e Michael Potts, entre outros.

Oscar bait

O mês de dezembro na Netflix não é marcado apenas por filmes natalinos. É nesta época que a gigante do streaming lança suas produções com mais chances de participarem do Oscar.

O termo "Oscar bait" (Isca para o Oscar, em tradução livre) se refere aos filmes com características para figurarem na premiação mais importante do Cinema mundial.

Ainda que o grande favorito da temporada para dar à plataforma o tão sonhado Oscar na categoria "Melhor filme" seja "Mank" de David Fincher, "A Voz Suprema do Blues" também possui diversos elementos que costumam agradar à Academia.

Viola Davis

A atriz é conhecida do grande público por protagonizar a série "How to Get Away With Murder" e ter interpretado a personagem dos quadrinhos da DC Comics, Amanda Weller, no filme "Esquadrão Suicida".

Davis é uma atriz premiada e ganhadora do Oscar de 2017 na categoria "Melhor Atriz Coadjuvante" pelo filme "Um Limite Entre Nós" (Fences).

Seu nome está sendo dado como certo para uma nova indicação ao Oscar, desta vez como "Melhor Atriz".

Chadwick Boseman

Chadwick Boseman foi uma das perdas do meio artístico mais sentidas no ano de 2020. O ator fez história ao levar para as telas de cinema o personagem dos quadradinhos da Marvel Comics T'challa/Pantera Negra.

O super-herói era um rei de uma nação da África do Sul chamada Wakanda.

Ainda que a primeira aparição do personagem no MCU (Universo Cinematográfico Marvel) tenha sido em 2016 no filme "Capitão América: Guerra Cvil", foi em seu filme solo de 2018 "Pantera Negra" que fez com que Boseman ganhasse fama mundial ao fazer com que pessoas negras de todo o planeta pudessem se sentir representadas em filmes de super-heróis.

Depois de sua participação nos filmes da Marvel Studios, o grande público passou a conhecer um pouco mais sobre a história de Boseman, e seu engajamento em contar a história de personalidades negras em filmes.

Seus dois últimos filmes foram produções da Netflix lançadas em 2020. Ele participou do drama dirigido por Spike Lee "Da 5 Blood" e no novo "A Voz Suprema do Blues".

Boseman morreu com apenas 43 anos depois de passar quatro anos lutando contra um câncer de cólon.

O ator escondeu a doença para poder participar do novo filme da Netflix. Toda a história envolvendo seu nome é mais um elemento que tem potencial para fazer a Academia homenagear o artista.

Se realmente um Oscar póstumo for dado a Boseman, a homenagem será mais do que merecida, pois o ator entrega uma atuação vigorosa em "A Voz Suprema do Blues".

Questões raciais

Ainda que o filme se passe em um dia da década de 1920. As tensões raciais que são abordadas no filme ainda são um tema relevante quase 100 anos depois. A atriz Viola Davis em entrevista sobre o filme declarou que o racismo ainda não foi destruído, ele somente evoluiu.

A trama

O filme se passa em apenas um dia de muito calor em Chicago, quando a cantora pioneira do blues Gertrude Ma Rainey, ou simplesmente Ma Rainey, (Davis), uma artista que já havia passado dos 40 anos vai para um estúdio com sua banda de quatro músicos para gravarem um disco.

Ma Rainey, que é conhecida como "A mãe do blues" tem que lidar com seu agente e o dono da gravadora (ambos brancos) e com sua banda composta somente de artistas negros.

A cantora não se deixa influenciar por ninguém e não abaixa a cabeça para os executivos brancos em uma época que a população negra era abertamente discriminada.

O espectador pode até em certos momentos achar o comportamento da protagonista antipático, devido a muitas decisões que a cantora toma, ela se comporta como uma diva em muitos momentos.

Ma Rainey era uma força da natureza que não apresentava uma presença física exagerada, mas era o tipo de pessoa que ninguém queria contrariar.

Muito do comportamento da artista é explicado pela vida de sofrimento que levou até chegar a condição de grande cantora de blues. Viola Davis expressa no olhar todo a força desta mulher que não aceitava que lhe dissessem o que fazer.

Se a Ma Rainey interpretada por Viola Davis era pura força e determinação em movimentos mais contidos, o jovem trompetista Levee, vivido por Chadwick Boseman é o oposto de Ma Rainey, Boseman, dez anos mais velho que o personagem, era puro vigor e fisicalidade.

Levee era um talento promissor no trompete e sabendo de seu potencial, ele não tinha receio de dizer o que pensava, diferente dos colegas de banda, ele não tinha medo de contrariar a temperamental Ma Rainey.

Sua atitude arrogante era uma mistura da falta de sabedoria da juventude e o resultado das cicatrizes (literais) que sua condição de negro em uma nação racista lhe impuseram.

As atitudes extremas do personagem não podem ser justificadas por suas tragédias pessoais, visto que os outros integrantes da banda também eram negros e também tinham traumas em suas vidas.

Mas até certo ponto se entende o porquê do personagem ser como ele é.

O filme de George C. Wolfe é bem interessante por todos os tópicos apresentados acima e muito mais. Será uma pena se ele for lembrado apenas por ser o último filme do astro Chadwick Boseman.