Quando Abel Braga assumiu o Internacional, no dia 10 de novembro de 2020, após a saída de Eduardo Coudet, trouxe consigo uma desconfiança generalizada entre imprensa e torcedores do clube. Não era para menos. Afinal, trata-se de um treinador de últimos trabalhos pouco eficientes e que passava por um longo hiato longe dos gramados.

A desconfiança aumentou ainda mais após os primeiros resultados. Derrotas e empates afundaram o clube nas competições e deram a impressão de que o bom trabalho de Coudet tinha desmoronado. Já se lia em alguns tabloides que a diretoria cogitava sua demissão antes mesmo do fim do campeonato.

Era um cenário de terra arrasada.

Abel engrenou no Internacional

Mas as previsões não se confirmaram. Após o breve período de crise, Abel engrenou com o Inter oito vitórias seguidas e nove jogos, ao todo, sem perder (a contar Brasileirão e Libertadores). A última derrota foi no longínquo 2 de dezembro, para o Boca Juniors, da Argentina, no Beira-Rio.

O que deve ficar claro é que a crítica não é um problema. As pessoas podem e devem ser criticadas em diversos aspectos da vida. No Futebol, a crítica acontece pelos resultados e desempenho. É compreensível que Abel Braga estivesse sendo posto em descrédito pelo seu trabalho.

O problema mesmo é a falta de coerência. Isso porque grande parte da mídia futebolística do país é a favor do chamado "tempo de trabalho" para os treinadores.

A cultura da demissão é um estorvo para a evolução do futebol brasileiro. Mas, sendo assim, por que exigir tanto de um treinador em tão pouco tempo de trabalho?

Abel esteve mal nos últimos clubes que passou, é verdade. Mas continua sendo o mesmo Abel que conquistou a Libertadores e o Mundo pelo próprio Internacional. E assumiu o clube em meio a uma pandemia, com curto tempo de treino, muitos jogos e com o campeonato no meio do caminho.

Para completar, ainda foi afastado por Covid-19 logo nos primeiros jogos a frente do clube.

É justo dizer que faltou um pouco mais de boa vontade com o técnico por parte da imprensa e torcida. Não se pode crucificar alguém que sequer teve tempo de dar justificativas para isso. É humanamente impossível que alguém consiga mostrar todo seu serviço em tão pouco tempo.

E é humanamente impossível também que alguém tenha trabalhos louváveis por todo local que passa.

É claro que Abel tem limitações. E que talvez devesse modernizar um pouco mais o seu conhecimento tático e técnico. Talvez o Inter nem seja campeão. Talvez ele volte a entrar numa má fase, como em novembro-dezembro. E aí esqueceremos rapidamente essas oito vitórias seguidas. Mas isso não pode servir de critério para jogá-lo no lixo. Assim como a boa sequência não pode servir para endeusá-lo.