A revista Veja revelou que uma liga independente de escolas de Samba (Livres), uma das organizações que são responsáveis pelos desfiles carnavalescos do Rio de Janeiro, pretende prestar uma homenagem ao presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) no próximo ano, quando o mandatário tentará a reeleição. Segundo a matéria, a previsão é de que o projeto seja levado ao Palácio do Planalto para que o próprio Bolsonaro avalie o projeto.
Raphaela Nascimento, a presidente da Livres, explicou que caso o mandatário concorde com o projeto, o próximo passo será levar a proposta de um tema único para a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), a organização é composta pelas agremiações do Grupo Especial.
No ano 2000, a totalidade das escolas de samba trabalhou com o enredo que falava sobre os 500 anos de descobrimento do Brasil. A ideia agora é exatamente a mesma, porém é preciso a autorização de Jair Messias Bolsonaro, para que depois se possa expor o projeto para a Liesa.
O ano de 2022 será diferenciado, com uma eleição presidencial e um possível retorno do Carnaval depois da pandemia. A intenção é exaltar o Brasil e o Rio de Janeiro no meio da situação caótica em que o povo está vivendo, declarou Raphaela.
A revista Veja teve acesso ao texto que explica que o enredo são no total 47 páginas em que são vistas fotos de Jair Bolsonaro com Juscelino Kubitschek. Em outro trecho há um texto que é uma espécie de roteiro de como o presidente da República deve atuar no dia do desfile.
O texto sugere que o presidente da República deve convidar alguns líderes mundiais que tenham um bom relacionamento com o Brasil, tanto de forma afetiva quanto com boas relações comerciais.
Se havia alguma dúvida de que o documento se trata de uma maneira de peça de campanha publicitária para a campanha à reeleição de Bolsonaro, o texto trata de dirimir qualquer dúvida quando afirma que o desfile irá ser a maior estratégia de marketing contra a “maior TV da América Latina”, uma menção à Rede Globo, notória emissora crítica ao atual Governo e detentora dos direitos de transmissão dos desfiles na Sapucaí.
Em outro trecho, ainda mais inacreditável, se propõe que o evento reúna ex-presidentes. O texto considerou que seria uma ótima estratégia reunir ex-presidentes brasileiros, que seriam homenageados na maior festa do mundo em que o grande homenageado seria Jair Bolsonaro.
O trecho acima descrito mostra uma total desconexão com o cenário político do país, ao sugerir a reunião de ex-presidentes que estariam no local sabendo que o grande homenageado seria um político que a maioria deles não tem o mínimo interesse em apoiar.
Os ex-presidentes petistas Lula e Dilma são opositores de Bolsonaro, FHC foi o presidente que o então deputado Jair Bolsonaro propôs o assassinato. Os dois únicos mais alinhados ao Bolsonarismo são Fernando Collor e Michel Temer.
É fácil prever que dentro do meio carnavalesco a proposta receberá duras críticas. Para que ela possa ser colocada em prática irá ser preciso ter apoio de todas as escolas do Grupo Especial e também do grupo de acesso, incluindo até mesmo agremiações mirins, como é indicado pelo projeto.
Reações
A pandemia fez as agremiações avaliarem as opções para o carnaval de 2022, a intenção é repetir os mesmos enredos que seriam elaborados neste ano. Leandro Vieira, carnavalesco do Império Serrano e da Mangueira disse que ficou surpreso com o descabimento do atual projeto. Ele declarou que até onde se sabe, todas as escolhas de samba estão com seus enredos já definidos para 2022.