Ao que parece, para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não basta apenas defender o chamado tratamento precoce contra a Covid-19, com o uso de medicamentos que a ciência comprovou que são ineficazes contra o coronavírus, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, é preciso também ofender quem ouve a ciência.

É inesgotável a capacidade de Bolsonaro de surpreender as pessoas com suas falas polêmicas, grosseiras e recheadas de fake news. Na quarta-feira (5), mais uma vez o mandatário saiu em defesa do tratamento precoce contra a Covid-19 e ainda classificou com um insulto quem não compartilha de seu comportamento negacionista.

Tiro no pé

Já não surpreende mais ninguém este tipo de atitude do líder do Executivo, porém, o mais espantoso nessa nova fala agressiva de Bolsonaro é que ela ocorre justamente no momento em que está sendo conduzida pelo Senado a CPI da Covid, que está apurando as ações e omissões do Governo Bolsonaro na gestão da pandemia. A comissão parlamentar de inquérito investiga também se os medicamentos defendidos por Bolsonaro foram recomendados para a população. Também está sendo alvo da CPI o repasse de recursos do governo para os estados e municípios.

Mandetta

Na terça-feira (4), o ex-ministro da Saúde LuizHenrique Mandetta abriu a fase de depoimentos na CPI. Mandetta declarou, entre outras coisas, que houve até mesmo uma minuta presidencial que propôs à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que fosse alterada a bula da cloroquina para que o remédio pudesse ser indicado no tratamento da Covid-19.

O ocupante do Palácio da Alvorada é um ferrenho defensor do medicamento e alega que foi curado da Covid-19 pelo uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro saiu em defesa do tratamento precoce nesta quarta-feira durante um comentário sobre o andamento da CPI da Covid.

Jair Bolsonaro ainda declarou que espera que a CPI também investigue a utilização em massa da hidroxicloroquina durante a crise sanitária em Manaus, no começo de 2021.

Ele ainda questionou as motivações daqueles que se dizem contra o que foi investido pelo governo federal na produção e distribuição do remédio durante a pandemia.

O presidente disse esperar que a experiência em Manaus “com doses cavalares de hidroxicloroquina” seja completamente esmiuçada pelos senadores. Bolsonaro ainda questionou porque não se investe em remédios, por eles serem muito baratos?

Se perguntou o presidente que ainda levantou a possibilidade de as empresas farmacêuticas se interessarem somente em remédios de custo mais elevado. “Nós conhecemos isso”, declarou Bolsonaro em um tom conspiratório.

Mais tratamento precoce

Demonstrando uma total falta de conexão com a situação delicada que seu governo está atravessando na CPI da Covid, Bolsonaro ainda declarou que está “sugerindo” para senadores aliados que são integrantes da CPI que convidem profissionais favoráveis ao tratamento precoce para que possam falar na comissão. De acordo com a estranha lógica de Bolsonaro, a CPI irá apresentar um resultado excepcional em seu final e que será mostrado o destino que governadores e prefeitos deram aos bilhões que foram entregues pelo governo federal.

China

Dando prosseguimento às suas teorias conspiratórias, o presidente da República ainda insinuou, sem citar a China, que o coronavírus poderia ter surgido em um laboratório. Em seguida, ele levantou a possibilidade de estarmos “enfrentando uma nova guerra”. Bolsonaro argumentou que os militares sabem o que é uma guerra química e perguntou qual foi o país que teve o maior crescimento do PIB. “Não vou dizer para vocês”, respondeu o enigmático Bolsonaro.

Checagem de fatos

No mês de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou um estudo que informa que a possibilidade de que o vírus tenha atingido seres humanos devido a um incidente em laboratório é “extremamente improvável”. O estudo diz que a origem mais provável do Sars-Cov-2 é que ele tenha sido o resultado do contágio direto de um animal para um ser humano.