O jornalista Luis Nassif, em sua coluna no site GGN, narra como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem tratado a segurança no Rio de Janeiro. A pedido do líder do Executivo, em maio do ano passado, o então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afastou o delegado Ricardo Saadi. A alegação foi baixa produtividade. Porém, foi visto posteriormente que, sob o comando de Saad, a Superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro tinha os melhores índices de produtividade do país. Bolsonaro também atuou contra a fiscalização da Receita Federal no porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, por onde entram armas contrabandeadas no Brasil.

Milícias

No início de seu mandato, o ex-governador Wilson Witzel acabou com a Secretaria de Segurança e transformou as polícias Civil e Militar em Secretarias. Após sua queda, o sucessor de Witzel, Cláudio Castro, nomeou os novos secretários em acordo direto com o presidente Bolsonaro. Na Secretaria de Polícia Civil foi nomeado o delegado Allan Turnowski, enquanto que para a Secretaria de Polícia Militar o escolhido foi o coronel da PM Rogério Figueredo de Lacerda.

O miliciano Orlando Oliveira Araújo, o Orlando Curicica, prestou depoimento ao Ministério Público Federal (MPF). Curicica foi preso por seu envolvimento com as milícias e foi o primeiro delator do Escritório do Crime, do qual era integrante.

Ele declarou que Turnowski e Figueredo de Lacerda têm ligações com as milícias, como foi mostrado na matéria da revista Piauí de julho de 2020. De acordo com a publicação, no período em que era o comandante do 18º Batalhão da PM, Jacarepaguá, Figueredo de Lacerda recebia uma mesada do próprio Curicica. O coronel da PM também teria a ajuda de milicianos para combater o tráfico de drogas na região.

Outras informações relatadas pela Piauí dão conta que Allan Turnowski, o segundo nome mais importante da Polícia Civil, teria recebido propina do bicheiro Rogério Andrade (Turnowski é conhecido por combater os inimigos das milícias). Marcus Vinícius Braga, o secretário da Polícia Civil, que abandonou o cargo no fim de maio, teria pedido apoio da milícia para prender traficantes da zona oeste carioca.

No ano de 2011, o delegado Allan Turnowski foi nomeado para comandar o Departamento Geral de Polícia da cidade do Rio de Janeiro. Nesta mesma época, o delegado Cláudio Ferraz era o chefe da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado). Ferraz tinha no currículo a fama de grande combatente das milícias, chegando mesmo a prender 200 milicianos.

Guilhotina

Ainda em 2011, a PF deflagrou a Operação Guilhotina, na qual foi detido o delegado Carlos Oliveira. Ele era o subchefe da Polícia Civil e homem de confiança de Turnowski. Oliveira foi acusado de ter vendido armas para traficantes. Como reação, Turnowski atacou o delegado Cláudio Ferraz e o acusou de corrupção. Ele apresentou como “prova” um inquérito que investigava supostos desvios em Rio das Ostras --o inquérito durou dois dias.

Baseado nessa acusação, Turnowski fechou a Draco. Não demorou muito tempo e a PF indiciou Allan Turnowski, acusado de ter avisado Carlos Oliveira sobre a Operação Guilhotina. Turnowski negou a acusação, porém foi exonerado do Departamento Geral de Polícia.

Reunião

Na última quarta-feira (5), Jair Bolsonaro começou o dia fazendo ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). Sem citar o STF, ele afirmou que iria editar uma medida contra prefeitos e governadores que não iria ser contestada “por nenhum tribunal”. A imprensa repercutiu a bravata que foi entendida como um ato de auto-defesa em relação à CPI da Covid.

A seguir, Bolsonaro viajou para o Rio de Janeiro e teve uma reunião com o governador Cláudio Castro, a reunião ocorreu a portas fechadas.

Ao final do encontro, a imprensa recebeu a informação que o assunto tratado foi uma parceira entre o Rio de Janeiro e a União. Somente isso foi dito. Na quinta-feira (6), aconteceu a operação policial que matou mais de 20 pessoas.

A culpa é do STF

O chefe da operação acusou diretamente o STF pela tragédia. De acordo com ele, a decisão do ministro do Supremo Edson Fachin de impedir que fossem realizadas operações policiais na pandemia fez com que o tráfico de drogas saísse fortalecido, o que levou ao confronto. Essa mesma narrativa foi repetida pelo jornalista bolsonarista Alexandre Garcia no dia seguinte.

Juntando as peças

Segundo Nassif, a hipótese é a de que a grave crise econômica e principalmente a crise sanitária comprometeram a popularidade e influência política de Bolsonaro.

O mandatário tentou fazer com que as Forças Armadas saíssem em sua defesa, mas falhou. Sem o apoio das Forças Armadas, Bolsonaro teria tomado o caminho da radicalização. Com a determinação do STF para que o Senado abrisse a CPI da Covid, a mais alta Corte do país se torna alvo das críticas de Jair Bolsonaro.

Sem condições de enfrentar pessoalmente o Supremo, Bolsonaro recorre ao governador do Rio, que precisava apenas usar uma investigação em andamento para realizar o massacre que foi visto na cidade, que teve o comando de dois nomes simpáticos a Jair Bolsonaro e que são suspeitos de estarem envolvidos com as milícias. A operação, segundo Nassif, é uma afronta direta ao que foi decidido pelo STF.