A série de quadrinhos "Tex" retrata um cenário de faroeste inspirado nos antigos filmes americanos do gênero cinematográfico que viria a ser conhecido como Western, que narravam pequenas histórias ou grandes conflitos armados ambientados no Velho Oeste americano, majoritariamente durante o século 19. Criado pelo escritor Gian Luigi Bonelli e o ilustrador Aurelio Galleppini na Itália, o HQ teve o seu primeiro exemplar publicado no país no dia 30 de setembro de 1948, sendo essa a primeira aparição do carismático personagem Tex Willer, protagonista da trama e figura central na resolução dos conflitos.

A concepção de Tex

Tex é um Ranger, ou seja, ele faz parte da agência de aplicação da lei com jurisdição que atua em todo o território do Texas. Os Rangers são uma organização que existe fora da ficção. Possivelmente, eles não começaram de forma oficial, porém, com uma longa história envolvendo momentos de dispersão, problemas com autoridades federais e retornos, é fato que essa é uma parte muito importante da cultura texana, sendo que hoje são protegidos legalmente contra a dissipação.

Logo no começo, um pilar da personalidade do protagonista é formado, que é o seu inabalável senso de justiça, sendo assim, em todas as histórias espera-se que ele tome a decisão que levará até a resolução do conflito principal.

Além disso, Tex é uma figura verdadeira, expressiva e honesta, características marcantes que se fortalecem à medida que acompanhamos suas aventuras.

Não é só o protagonista que é retratado de forma interessante, mas também existem afirmações claras dos aspectos positivos e negativos acerca das autoridades governamentais, do exército americano, dos homens de negócio da época e dos povos indígenas, o que complementa a obra e permite que se construa um entendimento necessário para adentrar o contexto e compreender a realidade em torno das curiosas narrativas.

Dessa forma, a distinção pelo caráter e índole dos personagens se torna parte fundamental dos quadrinhos, sendo muitas vezes perceptível a verdadeira intenção de alguém, sendo elas boas ou ruins, desde quando este nos é apresentado.

Porém, nem sempre respeitando essa lógica, as histórias nunca deixam que se perca o elemento da surpresa, introduzindo inimigos inesperados, atribuindo características antagônicas a personagens antes vistos como pessoas de bem, etc.

É assim que se apresentam os outros personagens mais memoráveis da trama, tendo personalidades inabaláveis e um grande senso de honra, como Kit Carson, o melhor amigo e grande companheiro de Tex, Ranger também. Lilyth, uma linda mulher integrante da tribo Navajo e esposa do protagonista, chamada de "Lírio Branco" entre os índios, ela morre tragicamente de varíola, espalhada por bandidos em sua aldeia. Foi com ela que Tex teve seu filho, Kit Willer (Falcão Pequeno) personagem recorrente nas obras.

Também foi por conta desse casamento que o nosso protagonista se tornou chefe dos Navajos e grande defensor dos direitos dos índios nativos americanos, recebendo o nome de "Águia da Noite".

Além dos já citados, o guerreiro indígena Jack Tigre também é de extrema importância em diversas histórias, sendo companheiro e amigo muito respeitado de Tex. Dentre as milhares de edições da série de quadrinhos, existem diversos outros homens e mulheres presentes em aventuras que complementam as histórias e atribuem vida às brilhantes façanhas da série. Um deles é Gros-Jean, um canadense de etnia métis, um povo misto reconhecido por constituir um dos 3 grupos nativos canadenses.

Ele é um fora da lei que se torna caçador, aparecendo em um dos quadrinhos que li recentemente, "A Mão Vermelha", da edição em cores da Bonelli Comics, onde ele conhece Tex e se torna seu companheiro.

Filho de um francês com uma índia, o carismático Gros-Jean foi visto pela primeira vez nessa mesma história, lançada originalmente na Itália em 1951.

Também é muito interessante observar a diversidade de ambientes em que se passam as histórias, construídas a partir do cenário quente do Arizona ou das planícies com neve no Canadá, as características geográficas se fazem presentes durante a trama e te colocam mais perto do enredo. Além dos biomas, os costumes, tradições, conflitos e modos locais são sempre lembrados e perfeitamente explorados em Tex.

A cultura americana é muito bem exposta, principalmente nos hábitos, mas também quando se trata de corrupção, disputas de poder, ganância, guerras e as suas motivações.

As histórias também dão enfoque às tradições e crenças indígenas, como fica claro no HQ "A Dádiva de Manitu", que se passa em Wichita, no estado do Kansas, e narra a perseguição de um criminoso que matou três jovens índias, mostrando Tex e Kit Carson no rastro do assassino, tentando ao mesmo tempo impedir que uma expedição de caçadores chegue ao Grande Vale dos Bisontes, animais sagrados para os cheyennes.

O massacre dessa simbologia representaria uma guerra entre cheyennes, kiowas e o exército americano. Assim, o conflito gira em torno da crença e da ganância, da crueldade e da tradição, nos levando por cenários de pradaria, noites na espreita com os protagonistas planejando o próximo passo e muita ação em torno, construindo-se na caricatura representativa da cultura indígena.

Dos dois lados da moeda, entre a maldade e a perseverança, existe a luta para salvar a honra e prolongar a vida daquilo que acreditam.

Tex também lutou na Guerra Civil americana, ao lado da União, mesmo que o seu estado natal, Texas, tenha ficado do lado dos Confederados, lutou também na Batalha de Glorieta Pass, traçando a memorável história do personagem a eventos históricos de grande importância na constituição dos Estados Unidos.

Culturalmente, o HQ é de extrema importância, o mesmo fator que nos faz conhecer um pouco mais a respeito dos povos que habitaram e habitam a América da Norte, nos faz darmos conta da riqueza histórica, cultural e, claro, da virtuosidade de seus criadores, como também de outros escritores e ilustradores que fizeram parte da trajetória de Tex.

Sendo assim, Tex é com certeza uma viagem a um tempo distante, em terras que mudaram drasticamente com o passar dos anos e continuam mudando, mas com conflitos muitas vezes parecidos, que tratam da índole e a realidade em torno das relações humanas, um fator universal sempre presente.