O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última sexta-feira (2), na entrada do Palácio da Alvorada, comentou as declarações do governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) no programa da Rede Globo, Conversa com Bial.

Na atração, o tucano assumiu publicamente ser homossexual. O governador disse a Bial que é um governador homossexual e não um homossexual governador, assim como Barack Obama era um presidente negro e não um negro presidente.

Só pensa naquilo

Bolsonaro sempre se expressou de forma polêmica em relação à qualquer orientação sexual que não fosse a heterosexual.

Em seu tempo como deputado, o atual presidente da república já se orgulhava publicamente em dizer que sua imunidade parlamentar lhe dava o direito de expressar livremente seu pensamento. E Bolsonaro exercia com maestria seu direito de dizer o que pensava, sem empatia com o que fosse diferente aos seus padrões.

Tal tipo de posicionamento era um "prato cheio" para programas televisivos que davam espaço para polêmicas, como os extintos CQC (Band TV), Pânico (RedeTV! e BandTV) e o ainda no ar Superpop (RedeTV!), este último apresentado por Luciana Gimenez.

Nessas atrações, era comum ver o então deputado de baixo clero, com pouca relevância no meio político, dizer abertamente que era contra mulheres receberem o mesmo salário que homens, se dizer a favor da ditadura, entre outros posicionamentos extremistas.

Ovo da serpente

Até mesmo o respeitado humorista Jô Soares não resistiu e levou o "excêntrico" parlamentar em seu programa. O que quase ninguém percebeu na época era que se estava dando voz a uma figura que, pouco tempo depois, ocupou o posto de presidente da república. Sem perceber, a televisão deu palanque para que Bolsonaro divulgasse suas ideias polêmicas para milhões de pessoas.

Mea culpa

Na entrevista no extinto Programa do Jô, da Rede Globo, via-se claramente o espanto do apresentador com determinadas falas do convidado. Se o humorista mostrava, com razão, perplexidade com o que era dito por Bolsonaro, o que se via era uma plateia que aplaudia o que o entrevistado dizia.

Jô Soares mostrou preocupação com o que estava ouvindo, e demorou um pouco mais para que as pessoas envolvidas nos programas televisivos em que Bolsonaro participou entenderem que ajudaram a dar visibilidade a comportamentos homofobicos e misóginos.

Bolsonaro já chegou até mesmo a dizer em uma entrevista que preferiria que um filho seu moresse em um acidente do que descobrir que ele era homossexual. Segundo conta, ele seria incapaz de amar um filho homossexual, pois estaria morto para ele.

De volta para 2021

Agora como presidente da República, Bolsonaro não goza mais do direito de demonstrar abertamente suas ideias polêmicas. Porém, de forma um pouco mais sutil, continua demonstrando que ainda é a mesma pessoa de outrora.

Sobre a fala de Eduardo Leite, o líder do Executivo declarou que o tucano estaria usando sua orientação sexual como propaganda para concorrer à presidência da República no próximo ano. O ocupante do Palácio da Alvorada ainda disse que Eduardo Leite "Está se achando o máximo", por ter assumido publicamente ser homossexual.

Eduardo Leite disputa dentro do PSDB com o governador de São Paulo, João Doria, e o senador Tasso Jereissati a vaga para ser o candidato da legenda que irá disputar a eleição presidencial do próximo ano.

Doria foi um dos políticos que parabenizaram a atitude do colega de partido em se assumir para o público, assim como a rival Manuela D'Ávila.