Chegou ao catálogo da Netflix o filme “Sorte de Quem?” (Windfall). A produção de apenas 1h32 aposta em nomes conhecidos do grande público e um time de realizadores experientes. A direção é de Charlie McDowell ("Complicações do Amor", "A Descoberta"); McDowell também participou do roteiro ao lado do parceiro de longa data, Justin Lader, do experiente Andrew Kevin Walker ("Se7en") e o ator Jason Segel, um dos protagonistas da estranha trama, também leva créditos pelo roteiro.

Rostos conhecidos

Além do já citado Segel ("How I Met Your Mother"), o filme tem outros rostos conhecidos dos assinantes da plataforma de streaming, Lily Collins ("Emily in Paris") e Jesse Plemons, o ator atualmente está arrancando elogios por sua atuação em outra produção da Netflix, “Ataque dos cães”, em que foi indicado ao Oscar na categoria Melhor ator coadjuvante.

O filme mostra, por pouco tempo, um quarto personagem, um jardineiro de origem latina vivido por Omar Leyva.

Do que se trata

Jason Segel interpreta um ladrão que invade uma bela casa no campo e quando está quase indo embora, os donos do imóvel chegam e descobrem a presença do invasor. O ladrão então faz o casal de reféns e negocia com eles uma quantia para que possa ir embora.

Azar de quem?

Ainda que o título em português faça sentido, o título original tem mais a ver com a produção. “Windfall” é uma expressão em inglês que trata da situação de quem ganha de forma inesperada uma grande quantia em dinheiro. No título brazuca fica o questionamento sobre quem teve sorte em ficar com a quantia de meio milhão de dólares.

Hitchcock

Charlie McDowell logo na abertura do longa mostra suas intenções de homenagear o mestre do suspense Alfred Hitchock, desde a fotografia até a trilha sonora que lembra filmes de suspenses de outras épocas. A abertura do filme mostra a câmera acompanhando o “tour” do ladrão pela bela propriedade, caso alguém veja o filme sem ter lido nada sobre sua trama, poderá facilmente achar que o personagem de Segel é um entediado morador daquela casa, este fato está de acordo com que será apresentado ao longo da produção.

O ladrão, a esposa, o CEO (e o jardineiro)

O roteiro quase despersonifica os personagens, o que interessa para a trama são os arquétipos para tratar de questões sociais. Será o encontro dessas três –ou quatro– pessoas que irá mostrar as diferenças de classes sociais entre eles. O diretor fez a escolha de desenvolver pouco cada um dos personagens e jogar para o público o papel de cada um deles dentro da sociedade capitalista que o filme parece querer criticar.

A figura do jardineiro está ali somente como escada para o personagem de Plemons mostrar seu discurso simplista sobre meritocracia.

O ladrão vivido por Jason Segel é mostrado como um homem meio atrapalhado, mas o filme em nenhum momento o trata como uma vítima; fica bem claro que ele é um criminoso que está apontando uma arma para um casal de inocentes. Porém, ao longo do filme são reveladas pistas sobre o personagem. A personagem de Lily Collins é uma mulher da classe trabalhadora que enriqueceu ao se casar com um bilionário. Então a trama mostra que ela entende as motivações de Segel, pois ambos vieram de situações parecidas.

O grande destaque de “Sorte de Quem?” é sem dúvida Jesse Plemons, a aversão pelo personagem começa desde o início quando fica claro que se trata de um homem egocêntrico e arrogante.

O CEO atinge o clímax de sua repugnância quando faz um discurso em que se coloca como uma vítima incompreendida, que as pessoas não sabem como sofre o homem branco bem-sucedido.

O filme misturas elementos de suspense e humor ácido é esta última característica que está presente pelos dois atos da trama, para em seu ato final mudar radicalmente seu rumo a partir de um trágico acontecimento que faz o espectador lembrar que está diante de uma situação em que três pessoas estão sendo mantidas como reféns sob a mira de uma arma.