Primeiro acende-se uma luz de alerta quando um problema ganha uma certa proporção. Depois, essa mesma luz muda para um piscar. Sinal de atenção. Resumindo o que se expressa no parágrafo: o problema não é novo e é necessário fazer algo, antes que ele atinja seu objetivo, nem sempre benéfico e equilibrado.

O raciocínio se estende a uma das grandes questões ambientais que persiste por mais de duas décadas. Os corais, seres fundamentais para garantir a harmonia ecológica e marinha, estão em estágio de socorro.

Isso pode ser confirmado por um alerta divulgado pela Administração Oceânica e Atmosférica Natural (Noaa) dos Estados Unidos.

Contudo, o branqueamento detectado pelo organismo americano não é inédito. Em seu comunicado, a NOAA mostra preocupações em relação ao quarto evento de branqueamento em massa de corais

Causas sabidas

Mais uma vez, os cientistas destacam o superaquecimento dos mares, o qual traz uma consequência nefasta para a vida nas águas: o sumiço de organismos necessários para a sobrevivência dos recifes de coral.

O comunicado da Noaa reconhece que “estamos literalmente à beira do pior evento de branqueamento da história do planeta”. "Parece que todo o Hemisfério Sul provavelmente vai sofrer branqueamento este ano", disse o ecologista Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch da Noaa.

Relação de simbiose

O branqueamento ocorre porque há uma quebra na relação saudável entre os corais e as algas que neles habitam. Para ficar maravilhado por tanto colorido apresentado no fundo do mar, as algas executam um importante papel nesse espetáculo visual: elas fazem uma fotossíntese que, no final desse processo, gera a energia necessária para os corais.

Quando há o afastamento ou a expulsão destas algas, ocorre o branqueamento, primeiro estágio de que algo não está bem na saúde dos corais. O que se vê são palidez e uma possibilidade de falência desses últimos seres vivos.

Em sua sabedoria, a Natureza programou uma dependência de outros Animais que precisam da vida dos corais multicoloridos.

Se houver o perecimento da base, certamente boa parte da cadeia submarina entrará em colapso.

Sem peixes, os efeitos negativos alcançarão atividades desempenhadas pelos humanos. Aqui, tanto a pesca quanto o turismo serão duramente afetados.

No caso específico da Austrália, a Grande Barreira abriga cerca de 1.500 espécies de peixes e 4.000 espécies de moluscos. Números robustos para uma extensão de 2.300 km.

Os cientistas avisam que, se houver novos aumentos na temperatura do planeta, dificilmente os corais resistirão, pois o branqueamento não poderá ser revertido.

Emblemático

Conhecida por sua beleza ao redor do mundo, os recifes de corais australianos vão ter de enfrentar seu sétimo branqueamento.

O primeiro foi em 1998.

O oceanógrafo francês Pascale Joannot, presidente do Conselho Científico da Fundação do Mar, reforça em entrevista à RFI o cenário desolador: “É grave porque os corais constituem um ecossistema extremamente rico em biodiversidade”. Mesmo que haja uma condenação fatal para eles, Pascale crê no surgimento de um novo ecossistema, porém piorado. Ele levanta a possibilidade de um repovoamento promovido por algas tóxicas, acarretando problemas posteriores de saúde pública.

A preocupação não se concentra apenas na Austrália. No ano passado, com uma onda de calor avassaladora no Hemisfério Norte, os recifes da Flórida e do Caribe foram vitimados pelo branqueamento.

No campo terrestre

Emergindo das profundezes do oceano, há outro entrave a ser resolvido enquanto não se tomam providências para brecar o fenômeno: em 2021 houve uma queda de braço entre o governo australiano e a Unesco. O organismo da ONU ameaçou incluir a questão da Grande Barreira na lista de sítios culturais/naturais que estão em perigo.

Devido a negociações diplomáticas nos bastidores e a atuação de lobby, a Austrália escapou desse humilhante título. No meio disso tudo, o principal atrativo turístico de seu litoral já sofreu com o branqueamento em seis outras oportunidades: 1998, 2002, 2016, 2017, 2020 e 2022.

Estima-se que quase um terço da Grande Barreira tenha morrido e, se o fenômeno climático do El Niño persistir por mais tempo, o evento se tornará global, atingindo os três oceanos da Terra em proporções devastadoras. A curto prazo, os próprios corais e outros animais marinhos. A longo prazo, essa conta virá para nós indubitavelmente.