A inteligência artificial (IA) não é um tema novo no meio acadêmico, pois os que estudaram informática ou área correlata trocavam ideias ou se informavam sobre ela lá em meados dos anos 1990. Bem possível que os primeiros conteúdos relativos à inteligência artificial tenham surgido antes dessa época.

Viramos o século e, de forma exponencial, esse ramo da Tecnologia ganhou visibilidade –muita visibilidade. Especialmente no ano de 2023.

No primeiro dia de novembro, cerca de 28 países estiveram no Reino Unido com o propósito de assinar um documento que assegure o desenvolvimento idôneo e transparente de ferramentas que se baseiam na inteligência artificial.

Esta é a primeira cúpula global para tratar dos riscos potenciais que a IA possa gerar nos setores sociais e econômicos. Entre os países que assinaram o documento final estão a China, os Estados Unidos, o Brasil e o bloco da União Europeia.

Declaração de segurança

Denominado de Declaração de Bletchley, ela propõe “identificar riscos de segurança da IA de preocupação compartilhada”. Estes sinais/elementos seriam levantados por metodologia científica ao entender o impacto desta tecnologia na sociedade moderna.

O embasamento calcado na ciência teria outro benefício a longo prazo: a construção e elaboração de políticas de identificação ao risco, resguardando a segurança de pessoas e processos.

A Declaração de Bletchley é a primeira tentativa palpável de acordo para que governos e legisladores encontrem pontos em comum de regular esse tipo de ferramenta vanguardista.

Porém, alguns países não esperaram esse movimento e saíram na frente. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden ordenou um monitoramento acerca da evolução da inteligência artificial em seu país. Já os europeus têm pronto uma legislação, o AI Act. A expectativa é de que essa lei seja aprovada ainda no ano de 2023.

Carta de intenções

Embora seja o produto final do encontro realizado no Reino Unido, a Declaração de Bletchley é uma carta de intenções, na qual os signatários se comprometem a garantir o uso seguro e não danoso da inteligência artificial.

Portanto, não é encarada como um dispositivo que prevê punições a transgressões. Possui mais um caráter convocatório de partes interessadas para debater a questão.

Num determinado trecho, a declaração direciona seu apelo ao meio acadêmico, empresas, governos e à sociedade civil.

Isso foi visto durante o transcorrer da cúpula em, pelo menos, dois momentos: o magnata Elon Musk não esconde suas preocupações a respeito do potencial da IA e em como ela pode ser uma ameaça à humanidade. Por sua vez, alguns participantes do evento preferiram focalizar suas atenções em riscos mais imediatos, como, por exemplo, a substituição/extinção de empregos e a difusão de fake news.

Parte disso apareceu na redação final da Declaração de Bletchley, já que a inteligência artificial pode afetar negativamente as áreas de biotecnologia, cibersegurança e de informação –mais especificamente a desinformação.

Para os países que aderiram ao documento, acredita-se que os efeitos variariam entre graves a catastróficos.

Algumas nações destacaram a importância de uma abordagem mundial para que se chegue a uma uniformidade na regulação da IA.

Primeiro instituto

Ainda não é concreto, ou seja, o primeiro instituto que reúne aspectos relativos à inteligência artificial no mundo não tem sede e nem equipe constituídas. Encabeçado pelo Reino Unido, a iniciativa tem o seguinte fundo: o país passou a observar com mais intensidade os problemas detectados ou decorrentes de ataques cibernéticos, guerras, falta de emprego e desinformação.

A criação do Instituto da Inteligência Artificial (não é o nome oficial) direciona-se ao estudo de novas ferramentas, ao crescimento dos dispositivos que a utilizam e os riscos ou consequências advindos de seu uso.

O anfitrião do encontro foi o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, o qual fez uma sintonia com os tempos atuais vividos. Ele considera o perigo potencial da IA: “Se isso for mal feito, a IA pode facilitar a construção de armas químicas e biológicas. Grupos terroristas podem utilizá-la para espalhar o medo e a destruição.”

Verbete popular

Talvez a cúpula pegue carona na onda das palavras mais usadas ou temas mais discutidos nas rodas de amigos e familiares de 2023.

Por coincidência, a palavra “inteligência artificial” foi eleita como o termo mais notável do ano, de acordo com a equipe do Dicionário Collins. Durante o ano, ela foi usada quatro vezes mais do que o normal.

Alex Beecroft é diretor editorial da Collins e acha que a escolha de 2023 reflete a significância e a influência da tecnologia na sociedade como um todo.

Usando bem ou não tão bem, a inteligência artificial é tema de papos nos vários cantos do mundo, embora sua presença já se faz sentir sutilmente muito antes de virar alvo de discussões e polêmicas. Em certos casos, não dá mais para extirpá-la; resta buscar o equilíbrio de sua convivência conosco, os humanos feitos de carne e osso.