Foi com exatos 90 anos que um dos maiores atores da época de ouro do Cinema morreu, neste Dia das Bruxas, 31 de outubro de 2020.
Sean Connery já estava longe das câmeras e burburinhos do colunismo social e da arte há quase uma década. Vivia tranquilamente no arquipélago ensolarado das Bahamas.
Sem alarde ou período de hospitalização, nada se ouvia a respeito de doenças ou estado mais grave de sua saúde. De acordo com informações da família, o ator escocês “foi embora” enquanto dormia. Era assim que ele gostaria de morrer, sem drama ou sofrimento.
A causa não foi revelada.
Sem se deixar prender
Digno de nota, o mais popular agente secreto britânico – 007 ou James Bond – foi desempenhado com louvor e maestria por Sean Connery. Talvez misturando o carisma, a sedução e o cinismo que a personagem exigia.
Aprovado pelo imaginário popular, Connery desejava mais da profissão que escolheu e não se enclausurou só no desempenho de 007. Em vez disso, fez uma carreira paralela muito bem-sucedida, provando seu talento, o qual ficou à disposição de grandes diretores em grandes papeis.
Nascido nos arredores de Edimburgo, Sean Connery era filho de pai católico e mãe protestante. A sorte não lhe sorriu de imediato: foi leiteiro, motorista de caminhão e serviu de modelo vivo para o Colégio Real de Artes da capital escocesa.
Tentou ser Mister Universo (campeonato de fisiculturismo) e conseguiu o terceiro lugar. Até que um amigo o convidou para fazer um teste nas artes cênicas, após a relutância em aceitar a sugestão.
Seu primeiro filme foi em 1955, mas ele não aparece nos créditos finais de “Lilacs in the Spring” e, por quatro anos, fez pontas em peças de teatro e produções de cinema.
Surge um papel maior em “A Maior Aventura de Tarzan”, onde encarna o vilão.
Em 1962, é que sua sorte profissional ganha uma guinada impressionante: é convidado para atuar como James Bond, o mais famoso agente secreto dos filmes de ação e policiais. Permaneceu por quase 10 anos como 007.
Outros trabalhos e reconhecimento
Connery foi um dos poucos capazes de praticar seu ‘feeling’ artístico e buscar atuações em filmes conduzidos por grandes diretores.
Assim foi quando participou de produções feitas por John Huston e Alfred Hitchcock.
O caminho trilhado por Sean Connery estava correto e o tempo mostrou isto: respeitado e ovacionado ao longo da carreira, faturou o prêmio Bafta de melhor ator, em 1986, por sua interpretação de um religioso em “O Nome da Rosa”, livro do escritor italiano Umberto Eco. No ano seguinte, consagrou-se com o Oscar de melhor ator coadjuvante em “Os Intocáveis”, obra-prima do diretor Brian de Palma.
Dois anos depois, roda com Steven Spielberg “Indiana Jones e a Última Cruzada”: ele faz o pai do aventureiro vivenciado pelo ator Harrison Ford. Connery atraiu a atenção do público ao chamar o herói de “Júnior”, contribuindo com marcante ironia e charme ao diálogo.
Ferrenho defensor da separação da Escócia do resto do Reino Unido, Sean Connery recebeu o título de “Sir” da própria Rainha Elizabeth II em 2000. Tal honraria concedida foi motivada pela sua enorme contribuição artística ao mundo cinematográfico.
Casou-se duas vezes: a primeira mulher foi Diane Cilento e o casório durou até o ano de 1973. Em 1975, contraiu matrimônio com a franco-marroquina Micheline Roquebrune, permanecendo juntos até a morte dele nas Bahamas.
Sem funeral e indícios de demência
Em entrevista ao jornal “Daily Mail”, Micheline revelou que Sean Connery sofria de demência nos últimos meses de sua vida. Sua morte foi tranquila e cercada pelos familiares mais próximos. Ela declarou que “pelo menos, morreu enquanto dormia e foi muito pacífico.
Estive com ele todo o tempo e ele simplesmente se foi. Era como ele queria ir, sem fazer barulho. Não era vida para ele. Ultimamente, era incapaz de se expressar por si só.”
Perguntado sobre como o ator era, a viúva Micheline disse que ele era estupendo, um modelo de homem e que a vida conjugal foi maravilhosa. Eles se conheceram em 1970, durante um torneio de golfe.
O filho, Jason Connery, afirmou à imprensa que haverá a realização de uma homenagem-funeral assim que a pandemia de coronavírus acabar. A nora de Connery, Fiona Ufton, postou a última fotografia de Sean nas redes sociais quando este fez 89 anos de idade. Na imagem, o sorriso característico do ator sobressaía ao lado do filho. A família não deu mais detalhes sobre o local de enterro do corpo.
Triste saber que um dia cada um tem seu final já determinado; ao menos, para nós, fãs da sétima arte ficamos satisfeitos em saber que Connery não levou tão a sério o perigo da morte que rondava 007. Em vez disso, nos brindou com muitos e muitos anos em papeis memoráveis. Aí vai um Martini seco com uma azeitona espetada por um palito. Sempre mexido.