“A menina” e “o menino” formam um casal que não tem a obrigação de aparecer simultaneamente. Essa tradução literal para o português dos temidos e desequilibradores fenômenos El Niño e La Niña são notados em sua alternância.

Depois de uns três anos, La Niña cede seu lugar ao seu irmãozinho, digamos assim. A partir da metade de 2023 com prorrogação para o ano de 2024, agricultores e países precisarão redobrar a atenção e suportar os efeitos da nova edição do El Niño pelo planeta.

Imagens de satélite apontam um crescimento anormal nas temperaturas do Oceano Pacífico.

Principalmente no litoral do Peru e Equador, onde se forma em geral o El Niño.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, nome oficial da agência climática dos Estados Unidos, declarou que o fenômeno deve começar até o mês de julho.

Em compasso de espera

Mesmo com esse alerta emitido, os especialistas norte-americanos não podem afirmar com toda certeza de que o El Niño já mostrou ação. Para eles, é necessário monitorar por um período mais longo a elevação das temperaturas. Só então será possível dizer que o El Niño deseja passar da nossa porta.

Ambos os fenômenos não possuem regularidade e se estendem por um período de 2 a 7 anos. Os primeiros efeitos do El Niño são a alteração na velocidade e na intensidade das correntes marítimas.

Em termos práticos, isso significa uma bagunça no clima de alguns continentes e o Brasil não escapa da influência desse fenômeno, o qual traz secas para algumas regiões e chuvas fortes para outros lugares do território nacional.

Não é apenas uma exclusividade daqui: essas consequências são idênticas em outras partes do globo, atingindo, por exemplo, a Austrália e a parte meridional da Ásia.

Na última vez

Em 2019, tanto a Austrália como a Indonésia sofreram uma dura seca, acarretando uma crise hídrica. O último El Niño ocorreu entre os anos de 2015 e 2016 e foi o mais intenso. Agora e de acordo com os prognósticos feitos por estudiosos, a tendência é de que o fenômeno seja mais forte. Alguns apostam que o ano que vem será o mais quente vivido no mundo, pois acreditam que os termômetros superem 1,5 °C em seus registros; ou seja, o abafado vai se tornar bem mais abafado.

Se isso realmente acontecer, os estudiosos temem por catástrofes climáticas com intensidade, marcadas por secas rigorosas, enchentes, quebra de safra e diminuição considerável na oferta de alimentos.

Aqui no Brasil

Duramente castigada pela estiagem provocada pelo La Niña, a região Sul deverá sofrer com grandes chuvas e alagamentos, quando o El Niño retornar. A estimativa é de que essas anormalidades se manifestem na primavera de 2023.

Para o Sudeste, são reservadas uma temporada de calorão e subida de temperatura. Com este contexto, é bem provável que o verão tenha temporais com precipitação bem acima da média.

Em relação ao Norte e Nordeste, a seca se fará presente, agravando ainda mais a questão da água e do pouco que se produz na agricultura da caatinga.

Por sua vez, a Amazônia pode ficar mais sensível aos incêndios florestais.

Quebra na economia

Já se fazem as contas dentro da economia a respeito do prejuízo imposto pelo El Niño: até 2029, calcula-se uma perda de até US$ 3 trilhões de ao redor do mundo.

A Universidade de Dartmouth, nos EUA, publicou um estudo em que analisa o impacto do fenômeno climático no crescimento econômico. No relatório, cita-se o período de 1982/1983, em que houve um resultado negativo de US$ 4,1 trilhões nos cinco anos posteriores ao biênio.

Países como o Peru e a Indonésia viram encolher seu PIB em mais de 10%. Os Estados Unidos sofreram com uma retração de 3% em seu PIB após os efeitos do El Niño.

Christopher Callahan, estudante de doutorado em Dartmouth e autor principal da pesquisa, afirma: “Nossos resultados sugerem que provavelmente haverá um grande impacto econômico que deprimirá o crescimento econômico em países tropicais por potencialmente até uma década”.