Lá se vão 12 anos e depois de certo arrefecimento sobre o desastre na usina nuclear de Fukushima, causado por um terremoto seguido de um tsunami, o Japão, sem querer (ou não) ressuscita a polêmica sobre os restos e substâncias gerados dentro da usina.
Na última quinta-feira (24) o governo japonês escolheu como primeira data o descarte de resíduos provenientes da central nuclear de Fukushima. Antes disso, entidades ligadas ao ramo pesqueiro e de proteção ao meio ambiente fizeram um apelo para que o procedimento fosse suspenso.
O Japão anunciou que a radioatividade detectada na água do mar que banha a região de Fukushima está abaixo dos limites.
O país ainda se comprometeu, por meio de seu Ministro de Meio Ambiente, Akihiro Nishimura, a publicar semanalmente os resultados da monitoração da água do mar.
Nishimura já fez uma declaração onde reconhece que “as concentrações de trítio são inferiores ao limite inferior de detecção nos 11 pontos de amostragem e não têm impacto adverso na saúde humana e no ambiente.”
Qual a técnica?
Para se fazer a operação da retirada dos restos de dentro dos tanques da usina, utiliza-se água filtrada para diminuir a temperatura dos reatores. Dentro deles, ela fica armazenada, gerando uma mistura. A parte que não se dilui nessa mistura é o trítio, alvo dos protestos ambientais e possível poluidor do mar.
O trítio é uma variação do hidrogênio e tem uma composição radioativa.
Mas, segundo técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a concentração dessa variação é baixa.
Sem condições de espaço e armazenamento dos dejetos gerados, o Japão optou por lançar esse um milhão de toneladas já diluídas no Oceano Pacífico. O processo não acontecerá de uma só vez e prevê-se o cumprimento de todo o descarte em algumas décadas.
Essa operação recebeu parecer positivo da AIEA.
Briga com vizinhos
Apesar do aval da agência, a medida do Japão suscita desconfiança, precauções e apelos. A primeira delas veio da China, a qual chegou a afirmar que o “Oceano Pacífico não é o esgoto do Japão”.
Uma das primeiras reações do governo de Pequim foi a suspensão das importações de peixes e similares como mariscos, algas, crustáceos e moluscos.
Além disso, muitos chineses anteciparam suas compras de sal marinho e explodiu a venda de detectores de radioatividade.
No último sábado (26), manifestantes sul-coreanos se reuniram em Seul para protestar contra a ação japonesa e cobrarem mais iniciativa e posição do governo local perante a contaminação do oceano.
Porém, o governo da Coreia do Sul relativizou o problema ao dizer que não vê problemas de ordem científica na liberação de água dos reatores de Fukushima. Por sua vez, os ativistas locais dizem que nem todos os impactos foram estudados ou levados em consideração.
Choi Kyoungusook pertence ao grupo Korea Radiation Watch, um dos organizadores do protesto que teve a adesão de 30 mil pessoas.
Em sua opinião, “ninguém pode dizer o que irá acontecer ao ecossistema marinho nos próximos cem anos.”
Enquanto isso, o Japão começou a primeira descarga dos resíduos: são 7,8 mil metros cúbicos (cerca de três piscinas olímpicas) que o mar receberá nas próximas duas semanas e meia.
De acordo com cientistas, o poder do trítio é inofensivo se comparado com o césio-137 (responsável pelo incidente ocorrido em Goiânia, nos anos 1980).
Caso haja contato com a pele humana, o risco de contaminação ou de efeitos colaterais são baixos, pois o organismo praticamente não absorve esse elemento químico.
Georg Steinhauser é radioecologista da Universidade Técnica de Viena e faz uma comparação com outras substâncias encontradas nos peixes: “O trítio não se reacumula progressivamente, não é como o mercúrio nos atuns.
Ele é hidrogênio radioativo em forma de molécula d'água. Essa água radioativa não se acumula em nenhuma alga, nenhum plâncton, mas sim continua se diluindo mais e mais.”
A organização ambiental Greenpeace vê que tanto o governo japonês como a empresa administradora, da usina, a Tepco, estariam de conluio na minimização das taxas de radioatividade, botando o foco só no trítio.
Documentos internos da empresa foram vazados e, conforme eles, mesmo com o tratamento feito com água filtrada não se conseguiu reduzir a “níveis não comprováveis” outros elementos de radiação como rutênio, antimônio, cobalto, iodo e estrôncio.