Um apanhado rápido das modificações no clima e, consequentemente, sua geração em tragédias ou carências são evidentes pelo país: inundações com destruição material e mortes no Rio Grande do Sul, idêntica situação em que se encontra Santa Catarina. Mudanças bruscas na amplitude das temperaturas sentidas em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Calorzão insuportável no Centro-Oeste e seca severa em uma das regiões com maior disponibilidade de água no mundo: a bacia hidrográfica da Amazônia vê a morte de animais e falta de recursos à população tomarem a cena.

Com tanta fúria proveniente da Natureza, a equação tem um resultado exato: a população mais afetada é a dos mais pobres. Portanto, a parcela que mais fica aterrorizada pelas mudanças climáticas.

A certeza disso vem de uma pesquisa promovida pela organização ambiental Greenpeace em conjunto com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica).

Do ponto de vista da renda e de raça

Segundo os dados da pesquisa, entre as classes menos favorecidas (D e E, mais especificamente), 70% responderam que têm medo das alterações no clima. Já para os mais abastados, o índice recua para 56% em relação à influência climática. Nas áreas periféricas, dá para ter uma média dos percentuais citados antes, pois 63% possuem uma percepção de temor.

Ao se olhar pela cor da pele, as pessoas pretas e pardas ficam mais inseguras perante os acontecimentos naturais. São 64% dessa faixa racial contra 60% dos brancos.

E daí para frente?

O ditado popular menciona que “uma andorinha só não faz verão” e logicamente há que se pedir o auxílio ou a colaboração de outros entes sociais ou institucionais.

É o caso das prefeituras, menor instância governamental e mais próxima da população de suas respectivas cidades.

A pesquisa do Greenpeace não fugiu da raia e estimulou os pesquisados a se manifestarem quanto à capacidade/confiabilidade que as prefeituras têm ao enfrentar os eventos climáticos.

De forma generalizada, pode-se concluir que a população brasileira deposita pouca ou nenhuma confiança no Poder Municipal, em se tratando de enchentes, deslizamentos de terra ou socorro adequado a desabrigados.

Quase dois terços (67% precisamente) disseram que não colocam fé ou não acreditam nas prefeituras. Nas capitais, a percepção dos entrevistados é mais descrente ainda, pois 77% declararam desconfiança em relação às suas prefeituras.

Voltando a fazer o recorte por raça, 72% dos negros e pardos não acreditam na força das prefeituras para combater as mudanças climáticas. Cerca de 63% da população branca pensa o mesmo.

Por sua vez, os jovens entre 25 e 34 anos (72%) desacreditam na administração municipal e a maior porcentagem de simpatia e crença nas prefeituras vem da população com mais de 60 anos. São 26% que dão o sinal positivo. Ainda assim não representa muito.

Grito de alerta

Os resultados pouco animadores da pesquisa revelam o descaso frente a tragédias ocorridas no Sul do país, por exemplo.

Seria um sinal de que elas não são consideradas uma prioridade pública.

“Não estamos lidando com um fato novo ou inesperado. Quantos mais precisarão morrer ou perder tudo para que os governantes garantam cidades seguras para todas as pessoas?”, disse Igor Travassos, porta-voz de Justiça Climática do Greenpeace.

A pesquisa não se concentrou somente no medo ou na falta de confiança; parte dela propôs estimular os entrevistados para que apontassem soluções diante das catástrofes e alterações no planeta.

Boa parte dos questionados (33%) acha que o melhor é desenvolver e aprimorar o sistema de drenagem das chuvas, citando a limpeza de canais, valas e da rede de esgoto. Para 20% dos entrevistados, deve-se pensar na construção de moradias fincadas em áreas seguras, livres de deslizamentos.

Dentro desse quesito, 27% dos brasileiros que moram nas capitais acreditam que uma saída é a melhoria da política habitacional.

Conforme escrito logo no início dessa matéria, o drama do Sul, a seca no Norte e o advento de ciclones e tornados na costa brasileira são parte de um mesmo problema, pois ao pesquisar sobre novos fatos que estão determinando as alterações (drásticas e nocivas) climáticas, até a cor do oceano está mudando –mais verde do que azul–, reflexo da subida da temperatura tanto no planeta como na superfície do mar. É bom lembrar que o Hemisfério Norte teve o seu verão mais quente de todos os tempos. Até quando?