Duas mãos são mais do que bem-vindas para plantar árvores, apalpar o solo, cobrir as raízes e, posteriormente, regá-las.
Ótima atitude quando se tem boa vontade e intenção, mas não se tem tempo ou recurso para isso. Mas, uma iniciativa vinda da África está dando não só este tempo como a oportunidade de equilibrar o ritmo da Natureza, por meio da junção de forças humanas.
País localizado no leste do continente africano, o Quênia decretou um feriado no mês de novembro para o plantio e a multiplicação de árvores em todo o seu território.
A data escolhida e reservada para o mutirão coletivo foi 13 de novembro.
O intuito primeiro é combater o desmatamento e aliviar as consequências das mudanças climáticas no globo.
Primeira edição
Foi a primeira vez que o feriado entrou em vigor, medida aprovada e liderada pelo presidente queniano, William Ruto. Daqui até 2033, o evento será conhecido como o Dia Nacional do Cultivo de Árvores.
Milhares de pessoas de todas as idades se engajaram nas mais diversas localidades do país. O objetivo é bem ambicioso: o Quênia pretende plantar e cultivar 15 bilhões de árvores nos próximos dez anos. Para isso, conta com a participação constante de seu povo a fim de tornar a região mais úmida, menos quente e menos propensa a secas prolongadas e à desertificação.
O impulso inicial foi dado pelo próprio governo, concedendo mudas gratuitas aos interessados.
Além disso, está incentivando a compra anual de duas mudas para serem plantadas nos terrenos dos participantes ou simpatizantes da causa.
A ação conjunta começou no leste do Quênia, com a presença do presidente. Enquanto isso, membros do gabinete governamental e governadores atuavam no restante do país.
William Ruto disse que proteger as áreas úmidas e as florestas é importante na captação de água.
Ele pensa que os benefícios advindos dessa primeira ação serão observados na agricultura e na distribuição regular das chuvas.
Ele estende o raciocínio de que a segurança alimentar só será alcançada se a agricultura local encontrar condições favoráveis para o seu crescimento e desenvolvimento, atendendo assim todos os habitantes da Nação.
União pelo rio
Um dos locais escolhidos para o plantio fica próximo ao rio Athi, o segundo maior do Quênia. Várias pessoas se reuniram, inclusive soldados e moradores locais com suas famílias, para fincar as mudas de árvores na terra.
“Vim plantar árvores aqui porque os nossos níveis de água têm diminuído. Mesmo aqui, na nascente do rio, os níveis estão muito baixos, pois as árvores foram cortadas”, disse o morador Stephen Chelulei.
Não existe um número oficial fechado, porém as autoridades estão animadas e acreditam que se plantaram 100 milhões de árvores no feriado de 13 de novembro.
A preocupação do Quênia tem a sua razão de ser: somente 7% de todo o território do país africano é composto por florestas. O governo quer subir essa porcentagem para 10% e investiu cerca de 80 milhões de dólares no primeiro ano.
Roselinda Soipan Tuya é ministra do Meio Ambiente e declarou que o Dia Nacional “é um momento para que os quenianos se solidarizem na defesa do nosso ambiente; é um dia de contribuição, todos nós nos unimos para combater a crise das alterações climáticas.”
Ativista ambiental, Elizabeth Wathuti faz um balanço positivo da mobilização comunitária: “foi incrível ver tantas pessoas perguntando onde poderiam plantar árvores ou conseguir mudas. Isso mostra que mais pessoas estão começando a levar a sério as questões de conservação.”
Houve chiado
O Quênia vem sofrendo uma seca contínua de três anos na parte norte da fronteira com a Etiópia e a Somália. São os efeitos nefastos do El Niño, o qual influenciou também o regime de chuvas nessa área.
É mais um motivo para essa bela iniciativa. Contudo, houve algumas manifestações de divergência, como foi o caso da ambientalista Teresa Muthoni. Embora acredite que a ideia seja boa, ela acha que a organização para chamar a população não contemplou os moradores dos centros urbanos.
Ela acrescentou que certas espécies selecionadas para o feriado não eram adequadas ao solo do país. Outras vozes se levantaram contra a inércia das autoridades do Quênia em relação à exploração ilegal de madeira e do pouco que resta nas florestas.
Ruto se limitou a dizer que o governo está agindo na questão do combate à exploração madeireira e insistiu na criação do feriado de 13 de novembro. Ele declarou o seguinte: “Continuaremos a proteger o nosso ambiente e a garantir que deixaremos uma nação da qual a geração futura irá se orgulhar.”
O saldo dessa atitude é que duas mãos comandadas por um cérebro consciente de que não se pode perder mais tempo em relação ao meio ambiente, asseguram e satisfazem a saciedade da boca e o ar tão necessário para os dois pulmões.