O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, concedeu uma entrevista à Revista Veja desta semana, em que reafirma ter provas da pressão exercida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), para interferir na Polícia Federal. Moro, que também exerceu o posto de juiz federal e coordenou uma das mais importantes operações de combate à corrupção – a Lava Jato – disse, na mesma entrevista, que enxerga intimidação do procurador-geral da República, Augusto Aras, ao investigá-lo sobre as acusações impostas a Bolsonaro.
À Revista Veja, Moro disse que confiou que o governo daria a ele todo o respaldo às ações de combate à corrupção, o que não aconteceu.
Sérgio Moro exerceu a função de juiz federal por 22 anos.
Ele reforçou, na entrevista, que o combate à corrupção não é a prioridade do governo. Um dos sinais, segundo o ex-ministro, foi a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, para o Ministério da Economia.
Um segundo episódio que fissurou a relação Moro/governo Bolsonaro foi o pacote anticrime. À Veja, o ex-ministro disse que “implorou ao presidente o veto à figura do juiz de garantias”, mas não teve apoio.
Explicações ao público sobre a entrevista
Concedi entrevista à Revista Veja com a intenção exclusiva de me defender das fakes news e ofensas e explicar minha saída do Governo, nem mais nem menos.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 1, 2020
Sergio Moro usou a rede social Twitter para justificar a entrevista.
Segundo ele, foi para se defender das fake news que envolvem o seu nome. “Nem mais, nem menos”, esclareceu.
Na mesma entrevista, Sergio Moro destacou que o governo não negociou cargos políticos em troca de apoio, mas que observou uma aproximação do governo com esse histórico.
Reportagem do jornal Folha de S. Paulo aponta justamente isso.
De acordo com o texto, o presidente ameaça até demitir ministro que não ceder espaço para futuros aliados. O Centrão, que reúne personagens da velha política, repelidos por certa parcela de eleitores de Bolsonaro, exerce poder na Câmara dos Deputados. São 200 de 513 parlamentares.
Interferência na Polícia Federal
O ex-ministro Sergio Moro reforçou, na entrevista, que vai apresentar as provas sobre as interferências do presidente Bolsonaro para a troca de Maurício Valeixo no comando da Polícia Federal.
Disse que fará “esclarecimentos adicionais quando instado pela Justiça”.
Sergio Moro é alvo de uma campanha de ataques nas redes sociais. Ele realçou que não tem medo das ofensas. Que se desagrada com o fato, mas que estão enganados os que pensam que intimidarão o ex-ministro com tais gestos.
Moro comentou que não tinha a intenção de ser algoz do governo e que lamentou ter adotado essa postura. Sobre a facada desferida por Adélio Bispo em Bolsonaro, Sérgio Moro disse que há forte suspeita de um mandante para a execução do crime. A única pendência é o exame no celular de um advogado do acusado.
Ao Jornal Nacional, da TV Globo, a Procuradoria Geral da República respondeu ao ex-ministro Sergio Moro.
Enalteceu que a PGR tem por obrigação apurar os fatos, obedecendo à técnica jurídica e que a investigação não tem viés de intimidação. Augusto Aras disse que ninguém está acima da Constituição e que não aceita ser pautado ou intimidado. O Palácio do Planalto não se manifestou sobre a entrevista.