A calvície rende milhões por ano, estudam indicam que em 2023 só o mercado do transplante capilar atingirá cerca de US$ 23,88 milhões (R$ 76,15 milhões). Isso, desconsiderando os valores gastos com tratamentos clínicos. De acordo com a International Society of Hair Restoration Surgery (ISHRS), houve um aumento de 76% nos procedimentos de transplante capilar em todo o mundo. Somente em 2014 foram realizados 1 milhão de procedimentos.
Apesar de não ser de hoje que as cirurgias estéticas são um grande atrativo financeiro, o caso do transplante capilar é singular porque existe uma técnica que não precisa de sutura (pontos cirúrgicos), o que abriu uma brecha para que não-médicos começassem a realizar a cirurgia.
Não é preciso ser muito inteligente para saber que cirurgia só deve ser feita com médico cirurgião. No entanto, as clínicas clandestinas atuam de forma organizada e inteligente, com muito marketing nas redes sociais, atraindo assim pacientes desavisados do mundo inteiro.
As clínicas clandestinas e o turismo médico
O negócio é uma troca de interesse financeiro onde tudo é vendido como a realização de um grande sonho, mas que pode virar um enorme pesadelo para o paciente. Os pacientes são atraídos por preços de barganha: a média que as clinicas clandestinas cobram é de US$ 800 a US$1,6 mil (de R$ 2,55 mil a R$ 5,1 mil), enquanto que para realizar o transplante capilar em países como o Reino Unido, o procedimento custa, em média, US$ 12 mil (R$ 38,3 mil), Já nos Estados Unidos, Canadá e Brasil, o valor médio é de US$ 15 mil (R$ 47,8 mil).
O turismo médico está ligado a uma rede de agências de viagens, que junto as clínicas clandestinas, criam uma rede de empresas de transplante capilar ilegal. Eles vendem pacotes que incluem passagens aéreas, hospedagem, o transplante capilar e até transporte em carros de luxo e baladas. Por cada paciente apresentado à clínica, a agência recebe uma porcentagem como se fosse uma comissão.
Só na Turquia, país onde as primeiras cirurgias clandestinas surgiram, são mais 350 clínicas clandestinas de transplante capilar. Em Istambul, 6 de cada 10 clínicas atuam sem licença do Ministério da Saúde. Na maior parte das clínicas clandestinas, os cirurgiões deixam o trabalho para assistentes (técnicas ou enfermeiras), estudantes de medicina inexperientes e até mesmo para pessoas sem treinamento médico.
O mais preocupante é que muitos pacientes não sabem que serão operados em clínicas clandestinas. A ISHRS descobriu recentemente que alguns pacientes que buscam transplante capilar no exterior estão sendo atraídos pelas credenciais de um médico conhecido. A propaganda é o clássico modelo de “isca”, incluindo falsos testemunhos e marketing duvidoso.
A cirurgia não é realizada pelo médico anunciado, mas por pessoal que não está licenciado para realizar uma cirurgia e em locais com pouca ou nenhuma estrutura médica. Esta é uma prática perigosa que, além de enganar os pacientes, os coloca em sérios riscos.
No Brasil, os biomédicos tentaram tirar uma casquinha desse montante enorme de dinheiro, mas a Associação Brasileira da Cirurgia de Restaurar Capilar (ABCRC) agiu rapidamente e não permitiu que a prática ilegal se alastrasse.
No entanto, visando o enorme crescimento na procura do procedimento na América Latina e México, cerca de 82% das agências ligadas ao turismo médico intensificaram suas ações entre 2012 e 2014. Existem perfis em redes sociais que divulgam resultados e indicam médicos turcos, sites onde o paciente pode comprar o ’‘pacote transplante capilar e viagem turística’’, tudo isso sendo explorado pelo mercado negro das clínicas clandestinas.
Quem vai não sabe que está colocando a saúde e a vida em risco, são enganados por uma rede internacional que vem atuando em diversos países.
Riscos à saúde
Ao invés de melhorar seu visual, o paciente poderá piorar a situação estética da perda capilar: cicatrizes aparentes, resultados artificiais, o não crescimento dos fios transplantados e áreas doadoras totalmente danificadas são algumas das queixas comuns de centenas de pacientes que foram operados em clínicas clandestinas.
Além dos problemas estéticos, há outros fatores que colocam a saúde do paciente em alto risco, como, por exemplo, infecções, que são extremamente comuns. O ambiente onde as cirurgias são realizadas não possui condições sanitárias adequadas. Por isso, a probabilidade de contaminação por fungos e bactérias é altíssima. Muitas vezes, em clínicas menos organizadas até os enxertos são trocados. O paciente é implantado com cabelo de outro paciente, o que, além de rejeição, pode ocasionar doenças como hepatite e Aids. O risco de morte também existe, especialmente em pacientes com doenças cardíacas.
Então, fica o aviso: antes de submeter-se a qualquer cirurgia, pesquise bem as referências do médico e da clínica. No caso do transplante capilar, acesse o site da ABCRC ou da ISHRS para que não caia em mãos erradas.