Jorge Lafond, nome artístico de Jorge Luís Sousa Lima, nasceu em 1952 e faleceu em 11 de janeiro de 2003, por complicações após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Ontem, sua morte prematura completou 14 anos e, até hoje, seu legado como artista pioneiro é lembrado, principalmente por sua personagem mais famosa, a drag queen Vera Verão.

Negro, homossexual e candomblecista, teve uma infância pobre.

Seu pai abandonou a família quando Lafond era ainda muito novo e se viu obrigado a trabalhar, desde muito cedo, para ajudar a mãe. Contra todas as possibilidades, passou no vestibular para Teatro na Uni-Rio, além de estudar balé clássico e danças africanas.

Como dançarino, fazia apresentações em diversas casas noturnas cariocas e, em 1974, passou a fazer parte do corpo de bailarinos do Fantástico, na Rede Globo. Dali em diante, atuou em vários programas da emissora e foi ainda coreógrafo do programa do Faustão, além de aparecer também em filmes e novelas. Contudo, foi em outra emissora que sua carreira ganhou imensa visibilidade, no programa A Praça é Nossa, do SBT, em que atuou por 10 anos como Vera Verão.

Fez história também no Carnaval, ao desfilar, em 1990, como destaque da escola de samba Beija-Flor, que trazia o samba enredo "Todo mundo nasceu nu". Lafond apareceu no alto de um carro alegórico totalmente nu, apenas com uma camisinha, devidamente enfeitada, no pênis. Foi a primeira vez em que o destaque da nudez carnavalesca foi dado a um homem, mas o artista repetiria o feito em outros anos, chamando sempre a atenção por sua beleza marcante e seus quase 2 metros de altura.

Em 2001, Jorge Lafond se envolveu em polêmica com militantes do Grupo Gay da Bahia (GGB) e do Grupo de Gays Negros da Bahia, ao participar de uma campanha do Ministério da Saúde para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, pois, segundo os ativistas, associar a imagem de Vera Verão a esse tipo de chamada era um reforço de estereótipos homossexuais negativos.

No entanto, o artista sempre considerou importante que essas campanhas de conscientização fossem feitas justamente por pessoas do meio LGBT, para que o apelo fosse direcionado.

O período que antecedeu seu falecimento foi cercado pela depressão. Um episódio triste ocorreu em novembro de 2002, na ocasião de um quadro no programa Domingo Legal, no SBT. No dia 10 de novembro, Lafond participaria da brincadeira "Homem x Mulheres" como Vera Verão, no time das mulheres, mas foi retirado do palco a pedido do padre Marcelo Rossi, que havia dito não se sentir à vontade para cantar no programa e dividir o espaço com um homossexual praticante do candomblé.

Arrasado, Lafond foi levado para aguardar nos bastidores, sentindo-se constrangido.

O episódio se juntou ao quadro de stress pelo qual o artista, que sofria de hipertensão, passava. Uma semana depois, ele acabou internado por conta de problemas cardíacos, enquanto enfrentava, ao mesmo tempo, a depressão.

Após o acontecido, Lafond esteve duas vezes no hospital, sofrendo uma parada cardiorrespiratória no dia 28 de dezembro de 2002. Além disso, apresentou complicações renais e precisou fazer diálise, mas seu corpo não suportou e, na madrugada de 11 de janeiro de 2003, um infarto e posterior falência dos órgãos o levou à morte.

Seu corpo foi levado de São Paulo ao Rio de Janeiro e o sepultamento, no Cemitério do Irajá, foi acompanhado por cinco mil pessoas. Fãs levaram cartazes e faixas para homenageá-lo e fecharam a cerimônia com uma salva de aplausos.

No mesmo ano, a escola de samba Acadêmicos do Cubango criou o "Troféu Jorge Lafond", com o intuito de premiar, extra-oficialmente, os destaques do carnaval carioca, concedendo o primeiro troféu em 2005 a Unidos do Uraiti.

O artista sempre será lembrado por seu legado, sendo uma das mais importantes personalidades LGBT da televisão brasileira e o responsável por conferir uma visibilidade duradoura à arte transformista no país.

Abaixo, o vídeo da última entrevista concedida por Jorge Lafond, para a Rede TV.