O final de 1770, mais precisamente o dia 17 de dezembro, recebia com graça uma das maiores personalidades da Música clássica. Nesta data nascia Ludwig Van Beethoven, um alemão que deixou um legado pungente e impactante numa das artes mais diáfanas e lindas da humanidade.

Pode soar como verossímil a ação do tempo sobre a figura do compositor e intérprete, porém é inegável sua influência no mundo musical. Até hoje é possível sentir alguns dos elementos empregados por Beethoven nos que vieram depois dele.

A cultura mundial deve muito a ele e, se não fosse por um mundo assolado pelo fantasma do coronavírus, as homenagens seriam mais festivas e, claro, com todos juntos a ouvir silenciosamente as obras do grande mestre alemão.

Infelizmente, não pôde se concretizar tais intentos em merecimento ao vulto de Beethoven.

Inspiração

O menino começou a estudar música bem cedo, pois o pai de Beethoven, além da achá-lo bem talentoso e com tino para o “negócio”, queria que ele fosse a criança prodígio que Mozart foi um pouco antes, dentro do século XVIII.

No ambiente domiciliar, a realidade era mais dura: seu pai tinha problemas com o álcool e o “menino prodígio” foi obrigado a trabalhar bem cedo, com o objetivo de sustentar e prover a casa e sua família.

Num destes empregos, o talento precoce foi descoberto pelo Conde Waldstein, o qual se mostrou entusiasmado pelo garoto. Então, ele envia Beethoven para Viena, no intuito de aprofundar os dotes musicais.

Silêncio e genialidade

Foi na capital austríaca que Beethoven começou a sentir os primeiros sintomas de surdez aos 26 anos. A tão famosa e alardeada surdez foi progredindo rapidamente. Quando tinha 44 anos, já não ouvia mais nada. Um peso ou castigo para alguém, cujo órgão de sentido como a audição fosse absolutamente necessário em sua profissão.

Numa carta endereçada a um de seus irmãos, Beethoven revela seu constrangimento: “Era-me impossível dizer às pessoas: ‘fale mais alto, grite, porque sou surdo’. Como eu podia confessar uma deficiência do sentido que em mim deveria ser mais perfeito que nos outros, um sentido que eu antes possuía na mais alta perfeição?”.

Este período dramático vivido em sua saúde coincidia com sua qualidade de vida decrescente.

Entretanto, é surpreendente pensar que suas maiores obras foram compostas durante sua surdez severa ou total (sinfonias, sonatas e concertos). Comparando-se a vida pessoal com sua capacidade de trabalho, pode-se afirmar que as grandezas eram inversamente proporcionais.

Alguns especialistas apostam que a deficiência auditiva foi o fator principal para que Beethoven inaugurasse e buscasse uma linguagem própria, que transitava do clássico para o romântico. Sem ouvir, eles pensam que o gênio procurou mais abstração na música. Um mal transformado em benefício.

De temperamento difícil, o compositor era visto como alguém grosseiro, recluso, bagunceiro e dependente da bebida. Também é famosa sua inclinação para a raiva.

Morreu aos 56 anos e a causa da morte foi atribuída a uma cirrose hepática. Com pouco tempo de existência entre nós, sua obra é vasta, delirante, poderosa, impactante. Escolher esta ou aquela obra é uma tarefa difícil, ingrata, injusta. Vale lembrar da Quinta e Nona Sinfonias, de “Pour Elise” e de “Sonata ao Luar”.

Se você ainda não se convenceu de que Beethoven “já era”, não se esqueça do seguinte: suas melodias continuam populares a ponto de serem escutadas em trilhas de cinema, momentos de emoção e até naquela pausa por atendimento em ligações para central de telemarketing.

Os músicos e o doutor

Fabiano de Abreu é um estudioso da mente humana e da inteligência, tendo escrito vários artigos científicos a respeito disso.

Perguntado sobre o que acha do compositor alemão nascido há 250 anos, ele afirma que Beethoven é um gênio para todas as épocas. E vai além quando o qualifica de “extraterrestre”, evocando uma presença e um talento fora do comum.

“Para mim, Beethoven foi o maior de todos os tempos (...) mas perco a concentração quando escuto o Allegreto (da sétima sinfonia) onde viajo de maneira surpreendente chegando a fechar os olhos”.

O cientista Fabiano opina que os músicos deveriam ser classificados em graus de competência: “há músicas e músicos fáceis de tocar e cantar, outras de grande dificuldade. Conseguir criar algo inédito e tão espetacular como Beethoven, é um feito para os gênios e se muitos são chamados de músicos, então Beethoven, Mozart, entre outros, só podem ser chamados de doutores e lendas musicais. Até que seria bom considerar graduações para músicos, desde aprendiz, especialistas, a doutores.”