As letras, os livros e a Literatura amanheceram órfãs com a morte de uma das intelectuais mais influentes na ficção brasileira do século XX.

A paulistana Lygia Fagundes Telles morreu hoje, 03/04/2022 de causas naturais. A confirmação de seu falecimento veio por nota da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual era integrante.

O presidente da Academia Paulista de Letras, José Renato Nalini declarou que “perdemos nossa querida. Partiu tranquilamente! Mas viverá para sempre. Principalmente no coração de seus amigos!”

Lygia escreveu romances como “Ciranda de Pedra” (1954), “As Meninas” (1973) e contos como “Antes do baile verde” (1970) e “A noite escura e mais eu” (1995).

Aliás, foi no conto que a escritora começou sua carreira, lá em 1938, com a publicação de “Porões e Sobrados”.

Desde então, sua trajetória foi marcada por reconhecimentos e prêmios. Ela ganhou por quatro vezes o Prêmio Jabuti, oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Em 2005, foi contemplada pelo Prêmio Camões, o qual reverencia autores da língua portuguesa. Com esse prêmio tão importante, ela entrou para o seleto rol dos 33 escritores (de diversos países lusófonos) honrados com tal prêmio.

Um pouco de sua vida

Nascida em 1923, Lygia Fagundes Telles era filha do promotor Durval de Azevedo Fagundes e da pianista Maria do Rosário Silva Jardim de Moura. Formou-se em Direito e Educação Física pela Universidade de São Paulo.

Era frequentadora de encontros literários com Mário e Oswald de Andrade. Em 1977, juntamente com historiadores e outros escritores como Nélida Piñon, ela elaborou um Manifesto dos Intelectuais, cujo conteúdo condenava a censura na época da ditadura militar. Esse manifesto se transformou num abaixo-assinado de mais de mil simpatizantes.

Mais tarde foi entregue ao Ministério da Justiça. Foi o documento mais importante criado por intelectuais ao atacar a falta de liberdade de expressão.

Casou-se duas vezes e da primeira relação nasceu seu único filho, Goffredo da Silva Telles Neto, o qual morreu aos 52 anos, em 2006, e deixou duas netas, Margarida e Lúcia.

Seu romance “Ciranda de Pedra” foi adaptado e produzido duas vezes na televisão pela Rede Globo.

Com o segundo marido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, escreveu o roteiro para o filme “Capitu”, baseado na obra de Machado de Assis, “Dom Casmurro”.

Em 1987, Lygia entrou para a Academia Brasileira de Letras e foi a primeira mulher brasileira indicada para receber o Prêmio Nobel de Literatura em 2016. A essa altura, contava 92 anos de idade.

Pessoa ativa, a escritora participou de vários congressos e feiras de livros dentro e fora do Brasil. Sua obra é traduzida em vários idiomas como o francês, o italiano e o sueco. Participou de muitos eventos literários promovidos em países como Espanha, República Tcheca, Canadá, Portugal e México.

Frase de efeito

Mulher determinada e de constituição interior forte, Lygia Fagundes Telles não é só uma escritora.

Muitos intelectuais a reverenciam como uma das grandes damas literárias do Brasil do século XX.

Eis aqui uma declaração acerca de como é ser escritora, como entrou para o ofício: “Sou escritora e sou mulher – ofício e condição duplamente difíceis de contornar, principalmente quando me lembro como o país (a mentalidade brasileira) interferiu negativamente no meu processo de crescimento como profissional.”