Dia 9 de novembro de 2022 é uma data petrificada na linha dura do tempo. Se respeitarmos a ordem, a perda dupla de Gal Costa (pela manhã) e de Rolando Boldrin (à tarde, no mesmo dia) ecoa na alma brasileira.
Uma força estranha paira sobre a cultura em suas diversas manifestações. No caso da baiana Gal Costa, a MPB perde uma de suas pedras mais preciosas. Um cristal que, quando tocado, ressoa com delicadeza e beleza pelo ar.
Gal morreu aos 77 anos em sua casa, na cidade de São Paulo. As causas reais da morte não foram reveladas e, a pedido da família, não serão divulgadas.
O velório da cantora aconteceu no dia 11 de novembro no salão da Assembleia Legislativa de São Paulo. Logo se formou uma fila de fãs e admiradores da baiana que gravou 40 discos, recebeu prêmios e era constantemente elogiada pela sua voz única, transformando-a num ícone da área musical.
Último carinho
A duração do velório foi das 9 h até as 15 h. Depois disso, o corpo seguiu para o bairro da Consolação, na zona central de São Paulo. O sepultamento ocorreu no Cemitério da Terceira Ordem do Carmo. Nesse momento, a família pediu uma cerimônia reservada aos mais próximos e parentes.
O filho, Gabriel, e a companheira e viúva de Gal, Wilma Petrillo, estiveram o tempo todo ao lado do caixão da artista.
Fãs anônimos e pessoas famosas vieram se despedir de Gal Costa; entre elas, as atrizes Lúcia Veríssimo e Sophie Charlotte, as cantoras Zélia Duncan e Maria Gadú, bem como outras personalidades como o político Eduardo Suplicy e os apresentadores Bela Gil e Serginho Groisman.
Outros Famosos que não puderam comparecer à Assembleia Legislativa, mandaram coroas de flores: caso dos apresentadores Sílvio Santos, Luciano Huck e os cantores Carlinhos Brown e Jorge Ben Jor.
Adepta do candomblé, Gal Costa tinha um irmão de santo, Alan dos Santos. Ele veio até São Paulo, mas passou mal durante o velório.
Entre os anônimos, gente de todas as idades compareceu para homenagear a cantora. Um publicitário de 24 anos disse que “ela não morre; quem morre é a gente”. O autônomo Carlos Alberto Esquetine, de 52 anos, revelou que tem todos os discos de Gal, provando ser seu fã desde criança.
Afastada
Mesmo com a decisão de não publicar a causa da morte, o que se sabe é que Gal Costa tinha passado por uma cirurgia de retirada de tumor localizado nas fossas nasais. Suas últimas apresentações aconteceram em setembro e, no final do mesmo mês, ela se submeteu ao procedimento médico.
Porém, ela cancelou a participação em eventos e a turnê que estava fazendo neste ano. Em novembro, estava prevista uma série de apresentações no Exterior.
Com o enterro realizado em São Paulo, surgiu a polêmica do local escolhido. Fãs da Bahia se manifestaram pela Internet de que o mais natural seria levar o corpo para Salvador, cidade natal de Gal Costa.
Agora surge no noticiário de que a vontade da artista era ser enterrada ao lado da mãe, Mariah, que, por sua vez, está no Rio de Janeiro, mais especificamente no cemitério São João Batista.
De acordo com o irmão, Guto Burgos, houve a compra de um jazigo no cemitério carioca, mas não soube explicar o porquê do pedido não ter sido atendido.
Mais do que companheirismo
A viúva e companheira de Gal, Wilma Petrillo, emocionou as pessoas que foram ao velório. Podia-se ver uma coroa de flores com os seguintes dizeres: “Agora eu já não sei viver sem você. Meu amor para sempre”. Muitos fãs ficaram comovidos e nas redes sociais alguns deixaram seus depoimentos: “A Gal só deixou amor, cantou amor e continuará ressoando amor, para sempre”.
Uma das mais belas vozes da Música brasileira, Gal iniciou a carreira nos anos 60, mesma época em que conheceu e se juntou com os parceiros Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso.
Militou no Tropicalismo e fez parte do grupo “Doces Bárbaros”.
Ao longo do tempo, colecionou vários sucessos como “Festa do Interior”, “Nada Mais”, “Luz do Sol”, “Dom de Iludir”, “Azul”, “Meu Nome é Gal”, “Baby” e “Meu Bem, Meu Mal”.
Ela deixa um filho, Gabriel, de 17 anos, que foi adotado aos 2 anos, quando ela visitou um abrigo para crianças no Rio de Janeiro. Ela tomou tal atitude em razão da impossibilidade de engravidar. Isso teria ocorrido antes do tempo normal, mas não desistiu de ser mãe.
Seu legado não está somente na Tropicália ou nos flertes com o rock, o jazz e a bossa nova. Ele está no amor, o qual sente que faltará um pedaço. A festa do interior ficará menos iluminada porque o canto do rouxinol cessou e o pássaro voou. Mas não parará de brilhar, de ser comparado com o mais puro cristal. Pois, como disse certa vez, John Lennon sobre a separação dos Beatles: o sonho acabou, mas os discos estão aí.