Assim como a fundação de Brasília e o enforcamento de Tiradentes são lembrados na mesma data (21/4), o mesmo acontece com o 12 de outubro, já que neste caso pode-se dizer de um dia dedicado à fé e à alegria.

A descontração e a brincadeira das crianças confundem-se com a fé e a devoção das “crianças mais altinhas e maduras” em reverência à padroeira nacional, Nossa Senhora de Aparecida.

Nesta feliz coincidência, o leitor desprevenido será levado a pensar que a santa precisa cuidar das gerações mais jovens e, por isso, tem tudo a ver. Porém, como se escreveu neste parágrafo, trata-se somente de uma coincidência.

Por que o 12 de outubro?

Torna-se necessário um mergulho, uma pesquisa na história do Brasil e desvendar o motivo da escolha do dia em homenagem às crianças.

Voltemos ao começo do século XX, no Rio de Janeiro: em 1923, a capital federal foi palco de um encontro de especialistas e técnicos que estudavam a infância. Foi o Congresso Sul-Americano da Criança –em sua terceira edição. Os debates giraram em torno da alimentação, Educação e do desenvolvimento dessa fase da vida.

Um político que participava do evento observou a comoção do assunto no meio popular. Em 1924, o deputado Galdino do Valle Filho redigiu uma lei, a qual propunha a fixação de 12 de outubro como o Dia das Crianças no Brasil. No final de mesmo ano, o presidente da República Artur Bernardes sanciona o Decreto 4.867, com validade em todo o território brasileiro.

Pegando no 'tranco'

Mesmo com a prerrogativa oficial, a data não foi prontamente aceita, e só algumas décadas mais tardeob teria mais projeção. Não era feriado e o comércio não dava “bola” para isso.

Em 1940, Getúlio Vargas criou outro decreto estipulando o dia 25 de março para homenagear os “baixinhos”. Ao contrário da legislação de 1924, o texto estendia uma atenção e dedicação voltada para as crianças.

O texto de 1940 dizia que “constituirá objetivo principal dessa comemoração avivar na opinião pública a consciência da necessidade de ser dada a mais vigilante e extensa proteção à maternidade, à infância e à adolescência”.

Somente a partir dos anos 50 do século passado, por iniciativa das indústrias Estrela (de brinquedos) e da Johnson & Johnson (cosmética), é que a data saiu do esquecimento.

No ano de 1955, as duas empresas apostaram numa campanha promocional em torno da data. A ideia, do ponto de vista empresarial, era aumentar as vendas de seus produtos.

Então, convidaram-se os pais para que fotografassem seus “pimpolhos” (de 6 meses a 2 anos –era o regulamento) e enviassem as fotos para análise. Os vencedores figuravam em revistas e jornais como o “bebê Johnson do ano”. E os pais também ficavam contentes, pois recebiam um prêmio em dinheiro. Inicialmente, essa ação ficou conhecida como a Semana do Bebê Robusto.

Com a potencialização das vendas, outras empresas se sentiram atraídas para participar da tal Semana. Logo, o nome mudou para a Semana da Criança.

Posteriormente, sabedores da legislação acerca do dia 12 de outubro, as indústrias e o comércio decidiram concentrar seus esforços para esse único dia.

O resto já se sabe: é o dia de receber brinquedos e experimentar doces, caramelos e afins. Uma data mais ligada ao consumo do que aos direitos dos “pequenos” e jovens.

“Essas datas surgem, pois o comércio precisa conseguir vender também em épocas de baixa sazonalidade”, diz a administradora de empresas Mariana Munis, especialista em marketing e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, em entrevista à Agência Brasil.

Caso único

Em razão do contexto histórico, o Brasil é o único país do mundo a celebrar o Dia das Crianças em 12 de outubro. A partir de 1925, muitos países adotaram o 1º de junho como o Dia Internacional da Criança. Porém, não é uma data de consenso mundial: é que a ONU (Organização das Nações Unidas) definiu, em 1959, o dia 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança, fazendo um conjugado com a adoção da Declaração Universal dos Direitos da Criança.

A data é tão lembrada mundo afora que, quase todos os meses do ano há uma homenagem às crianças em algum país. O único mês que não registra qualquer lembrança aos “baixinhos” é fevereiro.