Os setores de locação de veículos e de motoristas de aplicativos vivem uma crise conjunta devido a fatores econômicos. A pandemia do coronavírus é apenas parte do problema. As locadoras estão sem carros novos para renovar a frota devido à falta de componentes por parte das montadoras –principalmente semicondutores, cuja explicação da escassez é o maior uso de computadores, devido ao avanço do home office e da educação a distância, além de uma briga por patentes entre EUA e China. Os motoristas de aplicativos, por sua vez, reclamam do preço do combustível cada vez mais caro e de não receberem proporcionalmente mais dos aplicativos para cobrir esse e outros custos crescentes, como a manutenção geral do veículo.
A Associação Brasileira das Locadoras de Veículos (Abla) apresentou nesta terça-feira (19) para a imprensa os números do setor. Segundo o presidente da entidade, Paulo Miguel Jr., cerca de 30 mil profissionais que atuam como motoristas de aplicativos devolveram seus carros alugados para as locadoras de junho até agora. Antes da pandemia as locadoras disponibilizavam 200 mil carros para os motoristas que trabalham de forma autônoma. Hoje, são 170 mil. Entre os 30 mil que faltam na conta estão muitos motoristas que não aguentaram os custos da operação.
De qualquer forma, Paulo Miguel diz que a demanda por carros locados está subindo aos poucos. No fim do ano passado, a Abla havia dito que o setor tinha demanda para comprar 800 mil veículos em 2021.
Até setembro, o setor só conseguiu comprar pouco mais de 310 mil. A previsão é atingir o número de 380 mil veículos até o fim do ano. Um pouco mais que os 360.567 veículos adquiridos em 2020. Clientes querem locar, segundo a entidade, mas não encontram carros ou os modelos preferidos. O carro por assinatura é uma modalidade que está crescendo, por exemplo, dentro do mix das locadoras.
Também nos aproximamos do final do ano, onde aumenta a demanda por carro alugado por parte de turistas em trânsito.
Falta de componentes eletrônicos dificulta entrega das montadoras
A frota hoje das locadoras é de 1 milhão e 70 mil automóveis. Devido à falta de componentes, as montadoras estão demorando de 240 a 300 dias para entregar carros novos às locadoras, diz Miguel Jr., e a prioridade, segundo ele, são as vendas ao varejo e a entrega para grandes locadoras que têm contratos de compra a serem cumpridos por parte da indústria.
As próprias concessionárias estão com estoque para apenas 15 dias. As locadoras têm trabalhado com carros mais rodados, adiando o momento da renovação da frota.
Atualmente, muitos passageiros de aplicativos reclamam da demora de serem atendidos. Faltam motoristas e carros. As empresas de aplicativos negam, mas as associações de motoristas falam em debandada desse tipo de trabalho. O número de desistência de carros alugados por profissionais chegou a 80% no pico da crise, entre abril e maio do ano passado, mas se recuperou no início deste ano.
Motoristas pensam em mudar de profissão
Enquanto isso muitos motoristas de aplicativos e motoboys pensam em mudar de profissão. Com a pandemia que tirou clientes da rua e o preço elevado dos combustíveis, a Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) estima que cerca de 25% da frota paulistana de motoristas desistiram da atividade.
Desde fevereiro o etanol subiu 23%, e a gasolina, quase 10%.
O presidente da Abla ainda torce para que o preço do litro de gasolina volte a ficar entre R$ 4 e R$ 5 em 2022. Segundo Miguel Jr., "havendo menor pressão sobre o dólar em 2022 é possível crer que picos acima de R$ 7 por litro de gasolina, em estados como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás, por exemplo, não vão se sustentar no ano que vem".