A bola já vem sendo cantada há algumas décadas e o Brasil se defronta com uma conjuntura que se assemelha a uma ‘sinuca de bico’, quando nos referimos ou pensamos sobre a Educação dos jovens.
O Semesp é um instituto que faz pesquisas, mantido por instituições de ensino superior. Ele resolveu traçar um diagnóstico sobre a importância e a evolução da educação. No que tange à educação básica, o panorama é assombrador.
Se nada for feito, faltarão professores ministrando aulas no quadro-negro para os que mais precisam de instrução, os pré-adolescentes e adolescentes.
O número calculado chega a 235 mil docentes em 2040.
Para se chegar a esse resultado, o cálculo considerou a tendência atual de 20,3 alunos entre 3 e 17 anos para cada professor. Caso a rota permaneça inalterada, é necessário o contingente de 1,97 milhão para ensinar os estudantes.
Atualmente, a atividade docente registra 1,74 milhão de professores. Logo, fazendo-se a subtração de um pelo outro, chega-se a essa deficiência.
Cada um com seus sintomas
Os professores da ativa vão envelhecendo e se aproximando da aposentadoria, enquanto os mais jovens não demonstram muito interesse em abraçar a carreira do ensino, devido à falta de reconhecimento. Com isso, as escolas terão sérias dificuldades na contratação de profissionais.
Mas, a maioria das pessoas já está cansada de saber de que existem outros fatores que contribuem para a precarização e sucateamento da educação no Brasil: desvalorização e baixos salários dos professores, infraestrutura primitiva e em condições abomináveis de conservação, violência nas escolas, falta de equipamentos adequados.
Outro acréscimo desfavorável foi o surgimento da pandemia de coronavírus. Isto é, um caldeirão de ingredientes que faz qualquer um que deseje ingressar no mercado de trabalho, descartar o ofício da educação.
Tomando por base as matérias que compõem o ciclo básico, as maiores ameaças de falta de professores se concentram em biologia, educação física, letras e química.
Efeito sanfona
A licenciatura é a parte do currículo acadêmico que se dedica à formação dos que desejam passar conhecimento nas classes das escolas. Disponibilizada tanto na modalidade presencial como a distância, o que se vê inicialmente é o aumento de interessados que ingressam na licenciatura.
Só que o problema no ensino presencial está na diminuição do número de matriculados. Foi uma queda de 37,6% na última década. Por sua vez, o ensino a distância possui uma expressiva entrada de indivíduos, compondo uma grande fatia do mercado da licenciatura. Entretanto, é onde se percebe uma alta taxa de evasão/desistência. De cada três estudantes, um não termina a graduação em EAD.
Reflexo do desinteresse pela profissão, o porcentual de jovens de até 29 anos dispostos a fazer licenciatura caiu para quase 10% entre os anos de 2010 e 2020.
Do outro lado da pirâmide
Quando se analisam os dados que procuram entender a faixa dos que possuem experiência como professores, a pesquisa do Semesp indica que eles saem da docência por falta de estrutura adequada nos locais de ensino.
Apenas 23% das escolas são privadas, o restante pertence à rede pública (a maior parte são municipais). Ou seja, dos 180 mil estabelecimentos de ensino (dados de 2021), 138 mil são públicos. E é desolador constatar a deficiência em coisas que se consideram básicas para o funcionamento de qualquer escola.
A pesquisa passa uma lupa nas escolas públicas e denuncia que 3,8% não possuem banheiro, 5,5% não têm saneamento básico, 2,6% não dispõem de serviço de água e 21,6% das escolas carecem de acesso à Internet.
Um dos dados mais alarmantes é que 39,9% das escolas públicas não têm sala de professores.
Com relação à saúde dos professores, a maior reclamação recai sobre a saúde mental, a qual se deteriorou bastante durante a expansão da Covid-19. A causa que mais afasta os docentes é o esgotamento físico e mental, vulga síndrome de burnout.
Mais de 34% deles sofrem de estresse prolongado e 72% alegam que não conseguem acessar apoio psicológico para se tratar.
A descompensação entre jovens e velhos é sentida, pois a média de idade dos professores acima dos 50 anos subiu para 109% entre os anos de 2009 e 2021.
Cláudia Costin é diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas e se surpreende com o declínio notado nos últimos tempos e com a perspectiva dos tempos vindouros: “Me chamou atenção que quase 40% das escolas estão sem sala do professor. Tem que ter um espaço para conversar, planejar. O Brasil terá que pisar no acelerador porque, com a pandemia, teve perda de aprendizagens muito importantes”.