Conhecida como região de veraneio para moradores e turistas que visitam a capital baiana, a região que compreende a Ilha de Itaparica é um museu a céu aberto, onde a história do Brasil e da Bahia são silenciosamente narradas, em cada antigo casarão, a cada ruína, como acontece com a Igreja de Nosso Senhor da Vera Cruz, localizada na comunidade quilombola de Baiacu.
História
De acordo com registros históricos sobre o início da povoação da região que compreende a Ilha de Itaparica, destaca-se como marco a vinda do navegador português Diogo Álvaro Corrêa, no ano de 1510.
Esse evento teve profunda importância na história do Brasil e da Bahia.
Caramuru, como ficou conhecido Diogo Álvaro, se apaixonou pela filha do cacique Taparica, a índia tupinambá Paraguaçu, e com ela se casou. Da união entre caramuru e Catharina Paraguaçu, como fora batizada, surge o primeiro registro histórico da miscigenação que se tornaria uma das principais característica do Brasil.
Os índios Tupinambás foram os primeiros habitantes nativos da ilha, por isso, daí deriva a origem do seu nome “Itaparica”. Segundo fontes de pesquisa, a palavra Itaparica deriva do tupi e tem como significado 'cerca feita de pedras', em razão dos arrecifes que circundam a costa da ilha.
A ocupação desse território por parte dos portugueses, teve início em 1560, na Vila do Senhor da Vera Cruz, local onde hoje se encontra a vila de Baiacu.
O povoamento se deu através da fundação de um pequeno núcleo, por jesuítas.
Nesse povoado, foram criados os primeiros gados, foi iniciada a cultura do trigo, da cana de açúcar e onde foi erguida a primeira obra de engenharia hidráulica da colônia brasileira, com o intuito de suprir a população com água potável.
Do mesmo modo, sob as bênçãos do Nosso Senhor da Vera Cruz, onde hoje está instalada a comunidade de Baiacu, foi erigida a segunda igreja do Brasil e a primeira da Ilha, batizada como Igreja de Nosso Senhor da Vera Cruz, dando origem ao nome do atual município.
As profundas raízes do tempo
A Igreja do Senhor de Vera Cruz foi erguida em 1561. Reclusa e imponente, a edificação se oculta nas redondezas da pequena comunidade quilombola de Baiacu.
Passados longos anos após o descobrimento do Brasil, hoje, o mais importante monumento histórico de Vera Cruz, encontra-se em ruínas, tragado por troncos e raízes de uma imensa gameleira, nascida no interior da edificação.
Essa é uma árvore sagrada do Candomblé, muito cultuado na comunidade de Baiacu.
A simbiose derivada desse emaranhamento, permitiu que a igreja se mantivesse de pé. Quem observa, não é consegue afirmar se a árvore que se sustenta as paredes da igreja, ou o contrário. No entanto, a natureza parece apenas ter dado novos adornos aos velhos contornos: Os galhos sustentam e compõem as paredes. As raízes, agora formam seu piso e as folhas, colorem a edificação com um opulente telhado verde.
Do mesmo modo, o sincretismo religioso incorporado no espaço, que mistura os ritos do candomblé e a fé Cristã, sustenta até os dias atuais, a tradição do local enquanto templo religioso. No entanto, as antigas missas do passado, deram espaço aos cultos aos orixás.
A tradição vive, mas de outra maneira, somada e associada a novos contextos.
O que se observa do que restou das ruínas da Igreja do Senhor de Vera Cruz, foi um emaranhado de cores, ritos e histórias que coexistem e se complementam entre sim. Assim como a Bahia.