Doença pulmonar infectocontagiosa, transmitida pela pulga do rato preto, a peste bubônica foi responsável por 1/3 das mortes dos europeus na Idade Média - dos séculos 14 ao 17. Mantida sob controle desde então, a doença volta a assombrar moradores de Madagascar, ilha situada no oceano Índico, com mais de 22 milhões de habitantes.
Conforme a agência de notícias AFP e o jornal estadunidense New York Post, o ressurgimento da mazela tem como pano de fundo uma sinistra tradição: a de dançar com cadáveres de familiares.
Batizado Famadihana, ou giro dos ossos dos antepassados, o macabro ritual consiste em desenterrar o corpo de um parente, para vesti-lo e posteriormente exibi-lo nas ruas.
Conforme Mahery Andrianahag, historiadora local, a mórbida cerimônia é extremamente popular entre os residentes das comunidades. “É um dos rituais mais difundidos de Madagascar", revela à AFP.
Porém, funcionários da saúde avaliam que o surto da peste bubônica, que desde agosto já infectou mais de 1.100 pessoas e matou 124 - até o momento – pode ter relação com o fato dos residentes manterem contato com cadáveres desenterrados.
Willy Randriamarotia, chefe de gabinete do Ministério da Saúde, comenta a situação. “Se uma pessoa morre de praga pneumônica e então é enterrada em um túmulo que é posteriormente aberto para [o ritual], a bactéria ainda pode ser transmitida e contaminar quem manipula o corpo".
Embora as evidências apontem o Famadihana como principal fator para desencadear a perturbadora patologia, iniciada a partir de pulgas portadoras da bactéria Yersinia pestis, moradores preferem acreditar numa conspiração governamental.
Eles avaliam que o governo resolveu culpar o insólito costume com objetivo de impedir a proliferação deste insalubre ato.
Helene Raveloharisoa, por exemplo, se recusa a deixar de celebrar com os parentes mortos.
“Eu sempre vou praticar o giro dos ossos de meus antepassados - com praga ou sem praga. A praga é uma mentira", fala.
Isabel Malala Razafindrakoto, com o corpo do filho de três anos em seus braços, envolto num lençol, declara satisfação em participar da inusitada tradição.
“Estou feliz em ver mais uma vez meu filho e cumprir meu dever”.
Isabel Malala Razafindrakoto desfila com o filho morto pelas ruas. Ele faleceu aos três anos (AFP). pic.twitter.com/huStZAWZaz
— Artur Zingano Jr. (@artur_zingano) 26 de outubro de 2017
Após residentes celebrarem o funesto hábito, que também contou com músicas, danças, cantos e bebidas alcoólicas, os corpos foram devolvidos aos cemitérios.
Ao que tudo indica, crematórios não são bem-vindos em Madagascar.