O dito popular menciona que depois da tempestade, vem a bonança. Mas não é o que está acontecendo com Moçambique, país situado no sul da África e vitimado por duas tragédias naturais seguidas no primeiro semestre de 2019: os ciclones Idai (março) e Kenneth (abril).
Por falta de financiamento e ajuda em dinheiro para praticar ações que acolham, diminuam e tratem adequadamente a população mais vulnerável, a recuperação de Moçambique caminha em marcha lenta. Bem lenta.
Esta insuficiência de fundos é observada com preocupação pela Fews Net, uma reunião de organizações norte-americanas criada em 1985 com o propósito de agilizar decisões quando se trata de administrar crises humanitários e tentar solucioná-las.
Tanto a Fews Net como a ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que é necessário imprimir um ritmo de urgência na questão, a fim de que a ajuda humanitária se intensifique e cresça rapidamente no país africano. A ONU fala num investimento da ordem de 388 milhões de euros, visando alcançar 2,4 milhões de moçambicanos em situação crítica. Porém, deste total, só 45% foram disponibilizados pela comunidade internacional.
Dependência do clima
Com a aplicação de uma escala que varia de 1 a 5, medindo o grau de fome que a população de Moçambique enfrenta, os especialistas deram uma nota 3 para as áreas dizimadas no centro e no norte do país.
Semelhante nota foi repetida para a região sul, porém, com motivação diversa, já que esta área de Moçambique enfrenta uma forte seca, inviabilizando, por exemplo, a agricultura.
Segundo a Fews Net, essa tendência adversa do clima deve se estender para o mês de outubro, retirando qualquer perspectiva de trabalho no campo ou de subsistência para o povo de Moçambique.
As previsões meteorológicas em relação às chuvas não são animadoras: a temporada 2019/2020 informa um prognóstico de excesso de chuvas no norte e pouca precipitação de chuva no sul do país.
Pelo menos, Moçambique pode se sentir um pouquinho mais aliviado em relação à influência do "El Niño", pois projeta-se uma atuação neutra desse fenômeno nas condições climáticas do país.
Todo esse quadro descrito colabora para uma saída mais vagarosa das consequências ocasionadas pelo Idai e pelo Kenneth, o que acarreta problemas sociais e econômicos, que já eram sérios antes dos ciclones.
No jargão popular equivaleria dizer que, "pelo andar da carruagem", Moçambique levará anos e anos para ter algum grau de satisfação e volta à vida normal dos atingidos.
Ficha técnica de 2019 para Moçambique
A força dos ciclones Idai e Kenneth matou cerca de 650 pessoas e deixou em estado vulnerável de sobrevivência mais de 1,7 milhão de indivíduos. Para fugir do cenário trágico imposto pelos ciclones, 146 mil pessoas se transformaram em migrantes sem destino.
Sem o volume necessário nos aportes de ajuda humanitária, o Governo não tem como investir em áreas estratégicas, como infraestrutura e setor produtivo. São necessárias a reconstrução de estradas e de linhas de comunicação, além de recompor o abastecimento de energia.
Também é preciso pensar em habitação, saneamento e drenagem de locais alagados pelo mar.
Existe uma preocupação da ONU com os migrantes e deslocados de seus lugares nativos porque boa parte deles está alojada em centros de acolhimento superlotados. Alguns dos abrigados nestes centros não sabem o que significa ajuda humanitária, devido a problemas na organização e distribuição. Isto gera “riscos de discriminação e abusos” às parcelas do povo que mais necessitam desta assistência humanitária; isto é, idosos, crianças, deficientes físicos e mulheres ficam para trás quando, na verdade, têm que figurar na outra ponta da fila.