Um vazamento de dados divulgado por um coletivo de jornalistas neste domingo (18) sugere que governos de tendência autoritária estariam usando a ferramenta de spyware Pegasus, da empresa israelense de vigilância NSO Group, para perseguir jornalistas, ativistas e lideranças políticas dissidentes.

Um coletivo de jornalistas investigativos formado por 17 veículos de mídia de dez países e coordenado pela organização Forbidden Stories, que se dedica a reportar histórias de perseguição e censura ao jornalismo, teve acesso a uma lista contendo mais de 50 mil números de telefone que foram aparentemente selecionados por clientes da NSO Group como alvos de vigilância.

Foram identificados números de pelo menos 180 jornalistas espalhados por 20 países que teriam sido espionados entre os anos de 2016 e 2021.

Entre os clientes da empresa NSO constam pelo menos onze governos de países tanto abertamente autocráticos como democráticos, por exemplo, Índia, México, Hungria e Arábia Saudita. O projeto investigativo que recebeu o nome de "The Pegasus Project" detectou, na referida lista, além de jornalistas, ativistas e defensores dos direitos humanos, dissidentes políticos, empresários e até mesmo governadores cujos telefones celulares deveriam ser invadidos pelo spyware Pegasus.

Em resposta ao Forbidden Stories, a NSO Group informou que, por razões contratuais e de segurança nacional, não poderia confirmar nem negar quais são os governos a quem presta seus serviços.

Com o auxílio do laboratório de segurança da Anistia Internacional, a equipe realizou uma perícia em 67 aparelhos de jornalistas cujos nomes aparecem na lista e, em 37 deles, detectou rastros ou infecções possibilitadas por falhas de segurança nos telefones periciados.

Na lista dos alvos em potencial estão jornalistas de veículos de mídia importantes, como CNN, Reuters, The New York Times, The Economist e até mesmo o editor do Financial Times, Roula Khalaf.

O trabalho investigativo descobriu, ainda, que o jornalista exilado Jamal Khashoggi, assassinado em outubro de 2018 na Turquia, com suspeita de anuência do príncipe saudita, Mohammad bin Salman al-Saud, teve seu celular invadido pelo software Pegasus. Sua ex-esposa, Hana Elatr, sua noiva, Hatice Cengiz, seu filho, Abdullah, e um amigo próximo de Khashoggi também foram hackeados e espionados antes e após a operação que levou ao assassinato.

Sofisticada ferramenta de espionagem

O spyware Pegasus é uma ferramenta sofisticada que pode infectar aparelhos Android e iOS quando o usuário clica em algum link propositadamente enviado e que leva à instalação do programa sem que a pessoa perceba.

Uma vez instalado no sistema, ele pode acessar todos os dados que se encontram gravados no aparelho, além de registros de ligações, conversas de WhatsApp, mensagens, e-mails e agendas. O spyware também é capaz de obter acesso remoto à câmera e ao microfone dos aparelhos, a fim de realizar gravações.

A NSO Group, em resposta por escrito ao Forbidden Stories, negou todas as alegações, afirmando não haver base factual nem documentação que possa corroborar a história. A empresa informou não ter conhecimento das atividades específicas de inteligência realizadas por seus clientes.