O Governo federal transferiu a divulgação de dados sobre incêndios florestais e queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM). O programa é de responsabilidade do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), subordinado ao Ministério da Agricultura. O anúncio foi feito em evento nesta terça-feira (13), por Miguel Ivan, diretor do Inmet.
O lançamento do Painel de Monitoramento ao Risco do Incêndio, que visa à unificação dos dados, foi realizado na segunda (12).
De acordo com Miguel Ivan, os relatórios do governo sobre incêndios florestais e queimadas deverão passar pelo SNM, não cabendo mais a divulgação individualizada dos dados pelo Inpe, nem pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).
O evento on-line, que contou com a participação de Tereza Cristina, ministra da Agricultura, foi seguido da publicação de nota conjunta em nome do SNM, composto por Inmet, Inpe e Censipam, informando que a medida é complementar a seus respectivos trabalhos, os quais não serão afetados.
Pesquisadores do Inpe, contudo, dizem que desconheciam a decisão, tratada em reunião da Casa Civil em 9 de julho. Funcionários que não quiseram se identificar relataram ao jornal El País que ficaram sabendo do fato pela imprensa.
O Inpe, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, é responsável há 30 anos pelo monitoramento e emissão de alertas de incêndios e queimadas no território brasileiro. Os últimos dados divulgados pelo Instituto em junho apontam que o último mês apresentou o maior número de focos de incêndio na Amazônia nos últimos 14 anos.
Em comparação aos dados de 2019, o ano de 2020 apresentou um aumento de 12,73% nos focos identificados pelo Programa Queimadas. A mudança é anunciada pouco antes do início de um período conhecido pela intensificação dos pontos de queimadas e incêndios florestais no país, que se dá nos meses de agosto, setembro e outubro.
Histórico de tensões
Em declaração ao portal G1, o coordenador do programa de queimadas do Inpe, Alberto Setzer, disse ter sido pego de surpresa pela decisão, que ele considerou como "um pouco desconexa". Setzer alega que o trabalho de monitoramento realizado por sua equipe não tem relação com o SNM.
As informações desencontradas vêm na esteira de polêmicas entre o governo de Jair Bolsonaro e o Inpe.
Desde 2019 o presidente vem tentando mudar tanto o sistema de coleta como a divulgação de informações.
A exoneração de Ricardo Galvão, que ocupava a diretoria do Inpe, ocorreu após o pesquisador defender a precisão e veracidade dos dados divulgados pelo instituto, diante de uma afirmação feita por Bolsonaro de que não seriam verdadeiros. Galvão estava à frente do Inpe desde 1970, mas o presidente o acusou de estar "a serviço de alguma ONG".