Antes dividida entre lado ocidental e oriental, a Europa assistia a eventos terroristas somente em sua porção mais próxima do Oceano Atlântico. Países como França e Espanha já foram alvos preferidos de ataques sanguinários e que buscam deixar consequências horríveis em vidas ou no psicológico da população. Porém, no mundo globalizado de hoje, não há mais essa divisão e a banda oriental do continente europeu foi alvo de um gesto contundente e aterrorizante.

A população russa se viu atônita na última sexta-feira (22), quando quatro homens invadiram a casa de shows Crocus City Hall, nos arredores de Moscou.

Lá dentro, os terroristas abriram fogo com suas armas e incendiaram parte do estabelecimento.

O público aguardava a apresentação de um grupo de rock local. Sentados, os pagantes foram repentinamente surpreendidos por rajadas de tiros. Essa combinação foi fatal para 133 pessoas. Outros 152 presentes ficaram feridos. Segundo autoridades, a contagem não deve parar nesse patamar.

Após o acontecido

A reação dentro da Rússia foi de pesar e de lamentação. A rede pública de televisão Rossia 24 disse que “o país inteiro está de luto por aqueles que perderam seus entes queridos nesta tragédia desumana”.

Recém-eleito para mais 6 anos de governo, Vladimir Putin se pronunciou, qualificando o ato terrorista como “selvagem” e anunciando a prisão de quatro homens suspeitos.

Não tardou para que o festival de empurra-empurra de acusações sobreviesse. O FSB (serviço de segurança russo) afirmou que os suspeitos tinham conexões na Ucrânia e lá pretendiam se abrigar. Porém, o órgão russo não apresentou qualquer tipo de prova. Os detidos foram encontrados numa região de fronteira entre Ucrânia e Belarus.

Do outro lado do cabo de guerra, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky rechaçou qualquer ligação ou vínculo com o ataque terrorista. Ademais, ele acusou Putin de pôr a culpa na Ucrânia.

Voltando para o lado de Putin, o russo não fez nenhuma citação ao grupo Estado Islâmico.

No mesmo dia do atentado, o grupo muçulmano reconheceu a autoria, dando detalhes da quantidade de participantes.

Segundo pronunciamento do Estado Islâmico, a ação tem como pano de fundo uma “guerra” contra países que se opõem ao Islã.

O grau de veracidade aumenta quando o Estado Islâmico divulgou em suas redes sociais um vídeo em que os terroristas filmam a invasão da Crocus City Hall, localizada nos arredores de Moscou.

Pena capital

Depois do triste massacre, os ânimos e os debates se inflamaram no meio político da Rússia. Vários parlamentares estão pedindo o fim da suspensão da pena de morte no país.

Essa medida chamada de moratória está em vigência desde 1996. E o terrorismo é um dos crimes listados e previstos para a aplicação da pena de morte.

O líder parlamentar Yuri Afonin, que cuida do tema de segurança nacional, sugere em entrevista à RFI que “quando falamos de terrorismo e assassinato de pessoas, precisamos restabelecer a pena de morte sob a lei criminal”.

Simpatizante de Putin, o político Sergei Mironov faz coro à de declaração de Afonin.

Caldeirão explosivo

Diante da turbulência vivida entre a Rússia e a Ucrânia desde 2022, o tom de inimizade só aumenta. O Kremlin considera vários oponentes e líderes de Kiev como extremistas e terroristas. No caso de opositores ao governo, houve uma forte repressão por meio do discurso ofensivo, cujo conteúdo varia de traição ao extremismo.

A guerra militar na região do Mar Negro passou para as palavras. O ex-presidente russo Dmitri Medvedev declarou que “destruiria” os ucranianos se for comprovada a participação de Kiev no atentado à casa de espetáculos.

Parte da mídia russa especula que a nacionalidade dos terroristas seria do Tadjiquistão, situado na Ásia Central.

O presidente do país, o qual já pertenceu à União Soviética, fez um telefonema a Vladimir Putin.

Além de condenar o ataque, o líder do Tadjiquistão, Emomali Rakhmon, disse que “terroristas não têm nacionalidade, pátria ou religião”.

Ponto de arrefecimento nesse complicado contexto vivido atualmente, o Papa Francisco fez orações e lembrou das vítimas do massacre ocorrido em Moscou. Durante a missa de Domingo de Ramos, o pontífice usou adjetivos como covarde e desumano.