O jornalista Glen Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, manifestou-se após a fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em uma entrevista coletiva, neste sábado (27), o presidente falou sobre uma eventual prisão do americano.

O presidente defendeu uma medida provisória publicada no Diário Oficial da União na última sexta-feira (26) que permite a deportação sumária de estrangeiros considerados “perigosos”. Durante sua fala, Bolsonaro disse que até havia pensado em fazer um decreto, sob a justificativa de que as pessoas que não "prestavam" deveriam ser mandadas embora do Brasil: "eu teria feito um decreto porque quem não presta tem que mandar embora".

Segundo o presidente, isto não estaria relacionado ao fundador do The Intercept Brasil, que vem divulgando diálogos atribuídos ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e aos procuradores da Lava-Jato, como Deltan Dallagnol.

Segundo Bolsonaro, o editor teria cometido um crime que não se enquadraria na portaria, pois ele é casado com o deputado David Miranda (PSOL-RJ), que é brasileiro, e possuem filhos adotivos no país. Para Bolsonaro, isto seria “malandragem” de Glenn. Entretanto, o presidente disse que Glenn não seria mandado embora do Brasil, mas que poderia ser preso por aqui mesmo: "talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não".

'Não temos uma ditadura', diz Glenn

Gleenn Greenwald decidiu se manifestar ainda neste sábado a respeito da fala de Bolsonaro.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o jornalista afirmou que não há uma ditadura no país e que predomina a democracia. Ele disse que em um país democrático, para que alguém seja realmente preso, é necessário provar que a pessoa cometeu algum crime, através de evidências concretas: "ao contrário do que Bolsonaro deseja, não temos uma ditadura, temos uma democracia".

Glenn disse ainda que o presidente não possui poder para mandar prender as pessoas apenas por motivos políticos, sem apresentar nenhuma evidência dos fatos.

Em relação ao fato de Bolsonaro ter lhe chamado de "malandro" por ter se casado com um brasileiro, ele rebateu dizendo que isso seria "totalmente maluco", pois, ele está casado há quase 15 anos com o deputado.

Disse também que pegou seu visto de permanência com base em seu casamento, entre o período de 2006 e 2007.

Glenn chamou a teoria de Bolsonaro de "quase insana", pois ele não teria como adivinhar que após 10 anos que ele havia conquistado seu visto, teria que precisar dele agora em 2019: "evidentemente, Bolsonaro acha que tem poder para prever o futuro". Ele criticou também o fato do presidente mencionar seus dois filhos como justificativa para pegar o visto, pois, segundo Glenn, ninguém adotaria filhos apenas para garantir alguma vantagem sobre a lei.