A desavença envolvendo Moro e Bolsonaro descortina um capítulo sensível na história do país. Nessa disputa, Bolsonaro sai enfraquecido, segundo avaliação de Anthony Pereira, em entrevista concedida esta semana à BBC News Brasil.

Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça, logo após Bolsonaro exonerar Maurício Valeixo da Polícia Federal. A demissão do diretor-geral da PF foi anunciada no Diário Oficial da União.

Sua saída espantou o eleitorado. Especialmente as revelações que o ministro informou em entrevista coletiva, caíram como uma bomba em Brasília.

Segundo Anthony Pereira, que é diretor do Brazil Institute, da Universidade King's College, no Reino Unido, não resta dúvida que o presidente terá um enorme desafio pela frente. "Não quero subestimar Bolsonaro como fenômeno político", disse.

Ele sublinha que, ao demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Bolsonaro pode ter ganhado a batalha, mas não a guerra. Com relação às consequências gerais, Anthony Pereira acredita que as pessoas vão ficar muito decepcionadas.

As mensagens

As conversas de WhatsApp entre Bolsonaro e o ex-ministro, foram exibidas com absoluta exclusividade pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo.

O presidente havia compartilhado com Moro o link de uma notícia de um jornal que citava que a Polícia Federal estava na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas.

Num claro sinal de desaprovação, Bolsonaro em seguida escreveu: "mais um motivo para troca".

A interferência de Bolsonaro, denunciada pelo ex-ministro, na avaliação de Pereira faz parecer que o governo não estava comprometido. Abre campo um verdadeiro imbróglio.

Em um discurso improvisado, o presidente Bolsonaro se defendeu [VIDEO] das falas do ex-ministro.

Ao lado de seus ministros, Bolsonaro se estendeu por longos minutos e reforçou dizendo que a lei o ampara para fazer as modificações que acharem necessárias na condução do país.

Sobre Sergio Moro poder sair candidato nas próximas eleições, Pereira disse: "não descarto a possibilidade [...] Moro abriu mão da carreira de juiz para ser ator político".

Bolsonaro perde seguidores pela primeira vez desde 2017

Segundo dados da Consultoria Bites, que acompanha as publicações dos perfis de todas as redes sociais de Bolsonaro desde antes dele se eleger a presidente, 48.473 contas deixaram de seguí-lo.

Importante lembrar que o presidente tem sido alvo de panelaços, especialmente a cada pronunciamento em horário nobre na televisão.

O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), que apoiou a eleição de Bolsonaro e atualmente é ferrenho crítico das decisões e posicionamentos do chefe de Estado, manifestou a sua opinião em sua rede social.

Bolsonaro diz no Twitter que Sergio Moro mentiu

Ainda manifestando sua defesa, neste sábado (26), o presidente Bolsonaro disse lamentar que o ex-ministro tenha mentido.

Ressaltou que nenhum ministro foi trocado por ele próprio, mas sim indicados, todos eles pelo próprio ministro ou diretor-geral. O presidente disse também que ''os bons policiais estão em todo o Brasil e não apenas em Curitiba, onde trabalhava o então juiz''.