Segundo a análise do cientista político Sérgio Abranches, em conversa com a BBC News Brasil, a derrota nas urnas por parte dos candidatos apoiados por Jair Bolsonaro (sem partido) demonstra que o fôlego do presidente ficou mais fraco para uma possível reeleição em 2022.

Para Abranches, as eleições municipais transmitiram a mensagem de que os eleitores estão querendo políticos mais estáveis, mais responsáveis, e com experiência em governança e que respeitam as orientações de saúde referentes à nova pandemia do coronavírus.

Bolsonaro e a polarização

Para Abranches, Bolsonaro é um político que aposta na polarização. Segundo o cientista político, a rejeição ao presidente está muito associada à resposta dele à pandemia do novo coronavírus.

O resultado das eleições municipais em Fortaleza demonstrou, segundo Abranches, que a cidade ensaiou uma frente contrária ao candidato bolsonarista, Capitão Wagner, do PROS, que acabou derrotado.

A eleição na capital cearense ficou marcada com a união de Ciro Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB) para apoiar a candidatura de José Sarto (PDT), que também recebeu apoio do PT.

De forma pessoal, o cientista político citou também a derrota significativa do PT nas eleições municipais deste ano e o crescimento do PSOL, em especial do candidato do partido em São Paulo, Guilherme Boulos, que mesmo perdendo a eleição para Bruno Covas (PSDB), ainda assim, na opinião de Abranches, saiu-se muito bem no pleito, tirando o candidato de Celso Russomano (PROS), apoiado por Bolsonaro, da disputa de segundo turno.

Bolsonaro em 2022

Outro aspecto importante citado por Abranches é em relação ao Governo Bolsonaro, destacando que o presidente já não é mais o mesmo de 2018. O cientista político também destaca que, ao lado de Bolsonaro, apenas o PT e seus apoiadores foram os maiores derrotados destas eleições municipais. Abranges cita que partido dos trabalhadores mantém grande rejeição por parte dos eleitores e ressalta o resultado pífio do candidato petista em São Paulo, Jilmar Tatto, que recebeu apenas 9% dos votos no primeiro turno.

Rejeição ao Bolsonaro associada ao coronavírus

Ao ser questionado sobre o fraco desempenho dos candidatos a prefeito e vereadores apoiados por Bolsonaro, Abranges explica que os eleitores deixaram o seu recado nas urnas ao governo brasileiro.

O cientista político acredita que a eleição presidencial de 2022 deverá ser atípica, muito marcada pela pandemia e pela crise econômica que o pais enfrenta. Abranches diz não ver o presidente fazendo nada para vencer as próximas eleições, ao citar que Bolsonaro está sem partido, não faz alianças e continua hostilizando todo mundo. Ele ressalta ainda que candidatos com discursos agressivos apoiados pelo presidente acabaram tendo derrotas expressivas nas urnas nas eleições deste ano.